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Males crônicos - crônicas sobre neuroses contemporâneas

Opinião|Uma certa felicidade

A mulher notou o grande amor e passou reto, certa de que seria ignorada.

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Foto do author  Renato Essenfelder
Atualização:
 Foto: Estadão

arte: loro verz

A mulher notou o grande amor e passou reto, certa de que seria ignorada.

A mulher disse não ao primeiro convite, certa de que esperaria a noite inteira em vão.

A mulher recuou quando ele a tocou, certa de que era um acidente.

A mulher desviou do primeiro beijo, certa de que seria o último.

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A mulher deixou as flores na portaria, certa de que não eram para ela.

A mulher recusou o pedido de namoro, certa de que era brincadeira.

A mulher deu de ombros para a viagem à Europa, certa de que seria desmarcada.

A mulher recusou o pedido de casamento, certa de que seria trocada.

 

A mulher não fez ultrassom, certa de que não era nada.

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A mulher não decorou o quarto, certa de que era um engano.

A mulher não quis comprar casa, certa de que a partilha seria complicada.

 

A mulher viveu enfim 77 anos ao lado do grande amor.

Certa de que, no dia seguinte, afinal, o amor terminava.

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Opinião por Renato Essenfelder

Escritor e professor universitário, com um pé no Brasil e outro em Portugal. Doutor em Ciências da Comunicação pela USP e autor de Febre (2013), As Moiras (2014) e Ninguém Mais Diz Adeus (2020). Docente e pesquisador nas áreas de storytelling e escrita criativa, escreve crônicas de cultura e comportamento no Estadão desde 2013.

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