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Um jeito muito estranho de driblar a crise

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Por Redação
Atualização:

Não sei se acontece na sua casa, mas na minha sempre acontece a Revolta dos Eletrodomésticos, alternando com a Rebelião dos Eletroeletrônicos. Na mais recente, a geladeira parou de refrigerar o aquecedor de água vazou e inundou a lavanderia e o freezer veio a falecer de um mal súbito.

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Depois de consertar praticamente tudo, achei que a revolução estava encerrada. Porém ao tentar ligar o multiprocessador vi que ele não funcionava mais. Estranhei, porque ele é novo e pouco usado. Tentei várias vezes e nada. Tentei outras tomadas. Seis outras tomadas. Nada. Achei louco e pedi ajuda para os universitários, minha filha e o namorado dela (que já são formados, aliás). Testamos as tomadas com o carregador do celular e, todas estavam OK. Ou seja, o multiprocessador não estava ligando.

Hoje, segunda-feira, procurei uma assistência técnica oficial da marca. Liguei. A gravação dizia para procurar o endereço mais próximo da minha casa no site. Entrei no site, que não existia.

Tentando escapar do Loop do Não-Atendimento, procurei uma assistência técnica autorizada no meu bairro. Encontrei o endereço e o telefone e liguei para confirmar.

Uma gravação neste número fixo dizia que, se eu quisesse ser atendida prontamente, deveria ligar para outro número, de um celular.

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Seguindo os passos de Alice no País das Desmaravilhas, engoli mais um cogumelo e liguei para o celular. E, alas, atendeu uma pessoa!

O homem disse que sim, consertava meu tipo de processador de alimentos e que poderia me atender naquele momento. O endereço, disse ele, havia mudado, não era mais o que eu achei na Internet, mas era bem próximo. Na tua tal 'em frente ao 284'. Perguntei o nome dele (vou chamá-lo de Vicente) e decidi ir a pé até lá com meu marido.

O multiprocessador é grande e bastante pesado. Mas coloquei tudo (o copo, inclusive) numa mochila imensa e fui com o equipamento nas costas.

Durante o caminho comentei com meu marido que achava bem estranho ele dizer 'rua tal, em frente ao 284'. Não tinha um número próprio pra me indicar?

Chegamos ao 284 e, não tinha nada ali. Entendi que 'em frente' seria do outro lado da rua. Mas ali também não havia nada. Vi um homem encostado num carro exatamente em frente ao 284.

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-Seu Vicente?, perguntei

-Ele mesmo, respondeu o homem.

-Eu liguei agora pro senhor e... onde fica sua loja?

-Eu não tenho mais loja, eu atendo assim mesmo.

-Assim como?, perguntou meu marido

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-Eu faço contato por telefone, encontro a pessoa aqui, levo pra assistência técnica em outro bairro e entro em contato-disse seu Vicente

Ainda um tanto quanto estupefacta e com um multiprocessador e um copo de liquidificador perfurando minha coluna vertebral, tentei entender a situação.

-Mas, Seu Vicente, eu trouxe o multiprocessador pra mostrar pro senhor, esperando ligá-lo numa tomada pro senhor ver o problema!

-Ah, mas eu trabalho assim agora, não tem onde ligar. Tem que levar pra loja em outro lugar.

Meu marido não se aguentou e disse que nós dois estávamos sentindo.

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-Desculpe, mas esse atendimento do senhor é muito estranho, disse meu marido

-Não tem nada de estranho, eu faço assim mesmo.

Deixamos Seu Vicente com essa última frase e um até logo.

Caminhamos meio a esmo pelo bairro perguntando por uma assistência técnica de qualquer coisa. Finalmente, um homem numa vidraçaria disse que tinha um cara que consertava tudo, mas a loja fechou e que agora atende na rua. Adivinha? Bingo, Seu Vicente. O vidraceiro disse que ele era de confianças, mas como não estava podendo mais pagar o aluguel arrumou esse jeito de atender. Um número de telefone antigo que era da loja física que fechou, que deixa uma gravação com um celular, pelo qual ele faz contato e marca encontro com a pessoa na rua.

Entendo que seja uma forma de driblar a crise, mas que é estranho, isso é. Não vou deixar um aparelho com um estranho que encontrei na esquina.

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Depois de uma hora com a mochila entortando a coluna, finalmente achei uma assistência técnica nas redondezas. Entrei, tirei tudo da mochila, mostrei pra atendente que plugou a tomada e.... ligou o aparelho. Que funciona normalmente. Só as luzes dos botões não estava acendendo, porque a placa deve ter queimado, o que não faz nenhuma diferença, já que são só ornamentos. O motor funciona normal, tudo normal.

Agradeci,voltei pra casa, fui direto pra cozinha, botei na MESMA tomada que antes não funcionava e... ligou. Funcionou perfeitamente.

Não sei se na sua casa também acontecem esses mistérios, mas na minha, além dessa modalidade tradicional parece que começou a primeira temporada das Pegadinhas dos Eletrodomésticos. Só falta aparecer o Sérgio Mallandro de dentro do copo do liquidificador pra gritar HA!

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