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Sobre o estupro coletivo: não é só porque 'se fosse eu', é porque foi com ela

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Por Redação
Atualização:

Se fosse sua filha. Sua mãe, irmã, tia, amiga. Se fosse você. Se. Eu sei que para os insensíveis é preciso usar essa técnica da projeção, jogá-los pela imaginação na cena do crime, pra ver se a empatia acontece.

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O estupro coletivo da menor de idade C.B.T.P. no dia 21 de maio, foi desumano, cruel, odioso. E real. Tem o vídeo. Os posts, os kkk's de escárnio, os tweets, a selfie. Está tudo escancarado na nossa cara. Não tem como escapar da verdade. Aconteceu. Acontece. O tempo todo.

Não adianta tentar voltar pra LalaLand, pro mundo de Oz, pra terra do Marshmallow cor-de-rosa. Não adianta elaborar absurdos na cabeça, tentar culpabilizar a vítima, julgar sua vida, reprovar seu comportamento. Isso é tudo manobra da mente para não aceitar que isso É REAL.

Nada vai esconder essa verdade do abuso, do machismo, da bandidagem criminosa, essa visão nojenta da mulher como objeto de posse, como brinquedo sexual, como carne para consumo. Que se perpetuará enquanto a gente não disser 'BASTA!'

Há um imenso Brasil corrupto, um Brasil machista, um Brasil criminoso, que trafica, que abusa, que mata.

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Mas há um Brasil de pessoas desesperadas, mas ainda esperançosas, que quer lutar contra isso.

Vamos lutar. Vamos aderir. Vamos acabar com isso. Difícil? Muito. Mutíssimo, mas não impossível.

Vamos pensar em lutarcontra o estupro, contra o abuso sexual de todo tipo, como um app que a gente baixa, instala e já sai usando.

A gente tem, sim, tudo a ver com essa garota. Não precisa conjecturar 'se fosse com você', porque já é com você. Com você, comigo e com todos os que têm humanidade. Ela jáfaz parte da nossa vida.

No museu Judaico de Berlim, no Vazio da Memória, há uma instalação com 10 mil caras sofridas feitas de ferro, que representam todas as vítimas do Holocausto. Quando você caminha sobre elas, o atrito das peças de ferro, gera gritos, que ecoam pelo imenso pé direito totalmente vazio.

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É muito doloroso andar sobre caras, pisar naqueles rostos simulados. E aí você tem vontade de sair logo de lá, depressa. Mas quanto mais rápido tenta sair, mais gritos ecoam.

Hoje, antes de dormir, vamos deitar a cabeça no travesseiro e pensar nessa menina. E em todas as vítimas, de ontem e hoje. A única saída é decidir que, todos juntos, vamos lutar para impedir, ou ao menos, minimizar as vítimas de amanhã.

Abusadores. Estupradores. Não passarão.

 

 

Update - de cortar o coração. Em sua página no Facebook a garota B.P. postou isso:"Venho comunica que roubaram me telefone e obrigaga pela apoio de todos .. realmente pensei serei que seria julgada mal ! Mas não fui, todas podemos um dia passa e por isso .. Não, não doi o útero e sim a alma por existirem pessoas cruéis sendo impunes !! Obrigada ao apoio"

Não doi o útero e sim a alma. De todos nós, humanos, com ou sem útero, que temos alma também.

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Créditos :(Foto de Rosana Hermann. Juliana Guarany caminha pela instalação no museu. ) 10 mil rostos de ferro, que gritam e representam as vítimas inocentes de ontem, hoje e amanhã. Instalação " Shalekhet" do artista Menashe Kadishman, no Jewish Museum em Berlim.

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