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Reflexões sobre gênero, violência e sociedade

Se você é contra a pedofilia, tire a "novinha" do seu vocabulário

Não tem desculpa, elas são menores de idade. 

Por Nana Soares
Atualização:

Imagem: Unsplash Foto: Estadão

Maísa Silva, MC Melody, Valentina. As três brasileiras têm algo em comum além da fama precoce: os comentários criminosos direcionados a elas.

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Criminosos mesmo, como consta no Estatuto da Criança e do Adolescente. Abuso de menores é crime. E embora no Brasil teoricamente todo mundo saiba disso e diga que condena a prática, o que mais tem é comentário celebrando "novinha" por aí, fora as barbaridades explícitas proferidas contra algumas delas.

Sou feminista, sempre trago péssimas notícias para os homens. Hoje trago a seguinte informação: se você fala de "novinhas", você ajuda a cultivar essa cultura. Menores de idade (meninas e meninos) são protegidos pela lei, qualquer ato sexual com menores de 14 anos é estupro e "novinhas" são crianças.

Não interessa que "hoje em dia as meninas estão mais saidinhas".

Não interessa que "elas já usam shortinho e vão pro baile funk rebolar".

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Não interessa que "muitas delas já estão grávidas nessa idade".

Nada disso muda o fato de que elas são menores de idade, protegidas por lei e que comentários que as sexualizam são criminosos.

 

A bem da verdade, considero um sinal de falência social precisar enfatizar em um texto que é errado dizer tudo de sexual que você faria com uma menina de 12 anos. Há algo de muito errado no mundo que construímos quando isso parece aceitável sob qualquer ângulo.

Pelo o pouco que sei, entendo que pedofilia é uma doença antes de ser um crime (leia mais aqui). Portanto, nem todos os pedófilos são criminosos, já que podem não expressar o desejo que sentem. Nesse caso, são pessoas com mais empatia pelo próximo do que os "homens de bem" que dizem os absurdos para as três meninas que abrem o texto e tantas outras anônimas. Vale lembrar que os relatos da campanha #PrimeiroAssédio aconteceram com a idade média de 9 anos de idade. Nove.

E se fosse com suas filhas?

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Tão absurdo quanto precisar dizer que abuso é errado é ter que usar esse argumento na esperança de que os homens se comovam e passem a tratar as mulheres (no caso, meninas) como seres humanos merecedoresde respeito e dignidade. E como NÃO merecedoras de uma violência que deixa marcas para toda vida.

Falar "novinha" é proposital para que as enxerguemos como seres sexuais e não como protegidas pela lei. É um termo para livrar a consciência da culpa de enxergá-las sob qualquer âmbito que não o de menores de idade.

A linguagem é poderosa e legítima muitas de nossas práticas culturais, inclusive essa absolutamente desprezível. Se você não compactua com o abuso de menores - e eu acredito que seja seu caso -, tire a "novinha" do seu vocabulário. Sem exceções: vale para a menina branca e rica e também para a menina periférica que gosta de funk. Nenhuma delas é novinha, todas elas são meninas.

 

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