PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

Reflexões sobre gênero, violência e sociedade

No esporte, o machismo é campeão

Por Nana Soares
Atualização:
 Foto: Pixabay

O viral da vez nas redes sociais foi o resultado do campeonato Oi Park Jam, uma competição de skate em Santa Catarina que premiou a vencedora entre as mulheres com R$5.000. Nada mal, não fosse o fato de que o vencedor masculino levou R$17.000 para casa. Apenas 12 mil reais de diferença por ganhar uma mesma competição.

PUBLICIDADE

Merecidamente alvo de críticas, os organizadores alegam que a categoria feminina  tem menos competidores e com menos qualidade, já que não são atletas profissionais e sim amadoras. Pode até ser verdade, mas o problema só piora: afinal de contas, por que as mulheres não são profissionalizadas e os homens são? Por que o trabalho delas é tratado em uma categoria inferior?

A foto viraliza porque é um símbolo da desigualdade de salários entre homens e mulheres, das quais tanto falamos cotidianamente mas que raramente vemos exemplos concretos. Em parte porque salário é tabu e não conversamos sobre (o que só ajuda a ter desigualdade), em parte porque com a existência de leis e de um debate acalorado da sociedade, tendemos a acreditar que o machismo nunca vai ser explícito assim. Mas ele é, e no esporte ele se revela mais e mais a cada dia.

Falo, por exemplo, das inúmeras vezes em que as conquistas das irmãs Williams no tênis foramapagadas para ressaltar o trabalho dos homens. Andy Murray (também tenista) precisou corrigir repórteres mais de uma vez quando atribuíam a ele recordes e conquistas já há muito alcançadas por Venus e Serena.

Falo do jogador sueco Zlatan Ibrahimovic, que ficou irritadíssimo ao ser comparado com a seleção feminina de seu país, uma das mais fortes do mundo. Como se fosse um demérito. E para coroar, Ibrahimovic ainda disse que "nem divertido era" e que as mulheres poderiam desistir. A resposta dos machistas que saíram em sua defesa, como não poderia deixar de ser, foi de que o futebol feminino não pode mesmo ser comparado ao masculino, já que atrai menos público e dinheiro, e por aí vai.

Publicidade

++ Leia também: Nunca merecemos Marta e Cristiane

Esses defensores cuidadosamente "esquecem" que nos Estados Unidos a seleção feminina de futebol gera mais dinheiro e público do que a masculina. Lota estádios, ganha torneios. E ainda assim recebe quatro vezes menos do que os pares homens. Elas tiveram que ir na justiça lutar contra isso.

Quer mais exemplos? Nas olimpíadas do Rio de Janeiro os ingressos para os jogos coletivos de mulheres eram mais baratos do que as modalidades masculinas.

Quer falar de um esporte "feminino"? Quase duzentas mulheres (incluindo a mega campeã olímpica Simone Biles) acusam o ex-médico da equipe de Ginástica Artística dos EUA de abuso sexual. Ele foi condenado a 175 anos de prisão por seus crimes.

++ Leia também: Tem desigualdade de gênero nas Olimpíadas.

Publicidade

O recado é muito claro: esporte não é lugar de mulher. As que se aventurarem nele não serão tão respeitadas quanto os homens, a quem verdadeiramente pertence esse mundo. Desafio, conquista, testar os limites é trabalho para homem.

PUBLICIDADE

Como em todas as áreas das quais tenho notícia, a resistência no esporte também está crescendo. Na verdade é um contra-ataque em busca de virar um jogo que passou tempo demais sob regras injustas e juízes parciais. As denúncias de assédio das ginastas americanas, a ação em busca da equiparação de salários e o protesto da seleção feminina de futebol depois da demissão de Emily Lima são ações que demonstram isso.

Nós incomodamos mesmo. No esporte, no trabalho, dentro de casa, na rua, onde mais estivermos. Vamos continuar incomodando quem precisa ser incomodado. Como o campeonato de Santa Catarina deixou bem claro, temos 12 mil motivos para estar furiosas.

Conheça o Olga Esporte Clube e as Dibradoras.


Publicidade

Me contate no Facebook

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.