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Reflexões sobre gênero, violência e sociedade

A onda de estupros coletivos transmitidos via Facebook

Por Nana Soares
Atualização:

Imagem: Pixabay 

No Rio de Janeiro, uma menina de 12 anos de idade foi estuprada por cinco homens por pelo menos uma hora. Não bastasse o horror do ato, ele foi filmado e transmitido no Facebook, e foi pela internet que a família da vítima descobriu o ocorrido. O caso agora está sendo investigado. Em maio de 2016, também no Rio de Janeiro, um crime chocou o país: uma jovem foi estuprada por mais de 30 homens, que filmaram o crime e postaram no Twitter.

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Na Suécia, três homens estupraram uma mulher por mais de 3 horas com transmissão ao vivo no Facebook e cobertura via Snapchat. O crime aconteceu em janeiro e a polícia foi acionada por uma internauta que se deparou com o vídeo e percebeu que se tratava de um ato criminoso. Dois meses depois, em Chicago (EUA), uma adolescente de 15 anos teria sido estuprada por 5 ou 6 homens e desaparecido, com o crime também transmitido ao vivo no Facebook.

De tão chocantes, é difícil acreditar que esses casos sejam reais. Mas infelizmente são, e com vários elementos em comum: vítimas majoritariamente menores de idade, múltiplos agressores e, o que talvez seja o mais chocante deles, a transmissão nas redes sociais. A que ponto chegamos para estupro ser de alguma maneira compartilhável?

Até onde eu saiba, estupro é crime em todos os países do mundo, embora com mais ou menos restrições. Alguns países não contemplam o estupro conjugal ou então anulam o crime se o agressor casa com a vítima, mas continua sendo crime em todos os lugares. No Brasil, é crime hediondo com pena que pode chegar a 30 anos de reclusão. E ainda assim os crimes são filmados e compartilhados. Quando não nas redes sociais, no Whatsapp e aplicativos similares.

Não dá pra entender o por quê, sinceramente, mas dá para dizer com alguma segurança que o crime não é assim tão condenável como parece. Dá pra dizer também que se tem muita certeza da impunidade quando você é capaz de transmitir um crime em que os autores são facilmente identificáveis. Impunidade tanto aos olhos da lei quanto social, diga-se de passagem, já que nem com o registro há a garantia de que os culpados serão responsabilizados e que a vítima não será desacreditada e posta à prova.

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Tenho certeza que para um estupro ser traumático ele independe de ter sido registrado ou não, é algo que não deveria acontecer e ponto. É um crime que não tem a ver com sexo, mas sim com poder e subjugação de outra pessoa. Mas a barbárie é um pouco maior quando uma violação desse porte é tornada pública, quando de alguma maneira é motivo de orgulho e de registro mesmo às custas da dignidade de outra pessoa.

Os casos são poucos, mas penso eu que com uma tendência de aumento. Dos quatro relatos que abriram esse texto, 3 aconteceram esse ano. É uma tendência perigosíssima e que, com toda honestidade, me enche de desesperança. Queria muito estar escrevendo que construímos um mundo melhor e mais igualitário, mas ao invés disso estou aqui falando de transmissão ao vivo de crimes de ódio.

E depois feminista é que é louca quando diz que existe cultura do estupro.


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