A quantidade de coisas absurdas que descobri no YouTube nessas férias, em canais que acreditava que eram inofensivos, não é brincadeira. E muitos dos nossos filhos continuam por lá.
É duro, porque a gente luta contra o bullying, contra o preconceito, se esforça pra combater a violência contra as mulheres, ensina limites, gentileza, respeito. E não desiste nunca, mesmo que as coisas não aconteçam como deveriam. Afinal, educar é uma construção diária. Nessa batalha, enfrentamos essa força que encurtou caminhos, mas também trouxe novos desafios para todos nós: a internet.
Achei que valia reproduzir trechos do texto publicado aqui na quarta-feira, dia 25, que não era dia do blog:
Educar em tempos de YouTube. Põe desafio nisso
O que leva uma criança inteligente e esperta a fazer buracos no calcanhar das chuteiras? Inocência, imaturidade, descuido dos pais. Sim. Mas, sobretudo, o incentivo que vem de canais do YouTube, com o lastro de pessoas conhecidas, como o do jogador da seleção Philippe Coutinho. Dependendo da idade, a criança pensa: “Se ele fez isso, pode ser uma boa ideia mesmo!
Como sempre, na educação dos filhos, a gente se surpreende e se assusta, quando escuta essas histórias malucas de crianças que fizeram loucuras, inclusive tirando a própria vida, depois de assistir a vídeos na internet. Eu, mãe atenta e dedicada, sempre me solidarizei com as famílias vítimas. Porque sei que, você pode até ser atento, mas coisas ruins acontecem quando ‘pisca’.
Por mais atento que a gente seja, sempre vai ter alguma coisa que foge do controle. Você tá ali do lado, mas vai tomar banho, cozinhar, fazer a mala, o que quer que seja e acha que pode deixar… Melhor não! Descobri isso ontem, assim que me deparei com o horror de ver um par de chuteiras destruído, além de alguns meiões cortados. “Até o Philippe Coutinho fez isso, mãe. Porque fica mais confortável atrás.”, ouvi como explicação. Impossível aceitar que era um par que tinha parado de servir e que ele tenha pensado que talvez, com os furos, voltasse a caber.
Fiquei horrorizada. Mas, mais que brava, me senti responsável. Óbvio. Afinal, nós permitimos que ele visse os vídeos no tal canal de onde veio a ideia. No caso, o Vosso Canal, com quase três milhões de inscritos.
E olha que, por aqui, a gente até limita bem o acesso à tecnologia. Mãe e pai convergimos na história do celular, que o nosso filho de 9 anos, ao contrário de muitas crianças da mesma idade, não tem. Dá mais trabalho? Claro. Mas ter filho é isso. E, nesse ponto, estou convencida de que não quero que tenham problemas evitáveis de visão, de socialização e de coluna, de tanto ficar com o pescoço abaixado.
Mas o tal do YouTube em casa, depois de proibir acesso aos canais mais famosos e prejudiciais, a gente não conseguiu chegar num acordo. E não é que o tempo mostrou que o que eles têm de bom, também podem ter de influência ruim?
Estamos diante de um dos maiores desafios modernos: permitir o acesso à tecnologia e impormos, nós mesmos, a censura que, tempos atrás, vinha na classificação indicativa, no horário de exibição e na reputação da empresa que produz ou exibe o conteúdo. Na internet, tá tudo à disposição de um clique. Termina um vídeo, o YouTube vai lá e te apresenta outro, que os algoritmos acham que valha a pena.
Educar hoje em dia é o desafio de salvar os filhos e de salvarmos nós mesmos desses tentáculos contemporâneos, que têm ganhado força inclusive com o financiamento de empresas riquíssimas. Experimenta ir à uma livraria de shopping sem topar com uma febre dessas na capa de um livro…
* O vídeo de hoje é sobre essa história de trolagem, porque eu fiz uma rápida pesquisa e vi que tipo de estupidez tá rolando solta e ganhando centenas de milhares de visualizações.
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