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Cada história é única

Era uma vez na chamada nação Flamengo

Por Priscilla de Paula
Atualização:

fonte: Pixabay

 

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Ele chegou saltitando e sorrindo, com uniforme vermelho e preto. Parou na nossa frente: "Hoje, eu tô feliz, moça!", gritou, antes de começar a lançar bolinhas de tênis pra cima, no semáforo.

Me alegrei só de vê-lo feliz. Afinal, me solidarizo e fico angustiada, ainda mais diante do aumento do número de pedintes nas ruas. Até quis dar alguma coisa, mas não tinha nenhum trocado na hora. Lamentei. Pra quem é contra esmola, eu sempre soube que quando você ajuda na rua, você estimula a mendicância. Melhor ajudar uma instituição. Mas chegou num nível que, numa hora ou outra, a gente acaba cedendo. Muitas vezes, até pela pressão dos filhos que ficam com o coração partido diante da situação lamentável e tão difícil de reverter, por vários motivos.

 

Mas naquele momento, apesar de não ter tido nada pra dar, o menino, que devia ter uns 15 anos, não demonstrou lamentar. Estava feliz de verdade. Era um grande dia, o da final do Campeonato Brasileiro, em plena pandemia. A camiseta do Flamengo que ele usava explicava tudo. Em pouco tempo, o jovem se despediu e saiu correndo, altivo, pra se encontrar com o grupo de amigos, sentados no gramado do canteiro central da avenida das Américas, na Barra.

 

Meu filho, de 12 anos, logo constatou:

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"Mãe, estão todos com a camiseta do Flamengo!"

Certamente, não era a oficial, afinal, quem tem dinheiro pra pagar a fortuna que custa?

 

Na hora, fiquei pensando no poder que ter o time numa final de um Campeonato Brasileiro tem pra aliviar a vida de milhares de brasileiros que estão sofrendo mais nos últimos tempos. E torci por eles. Como se fosse o meu time.

Na verdade, sou mineira e sou Galo. Mas nunca sofri, nem comemorei, confesso. Talvez tivesse sido bacana ter sido torcedora. Sem grandes paixões, pra não sofrer muito. Só que, desde que a gente se mudou pro Rio, em dezembro de 2019, eu tenho uma simpatia especial pelo Flamengo. Até meu filho, paulistano da gema, corintiano desde pequeno, passou a torcer pro rubro-negro.

Também, foi fácil. As boas vindas foram as melhores possíveis. O pai, sabendo da tristeza que ele tinha de se mudar de São Paulo, chegou em casa depois de uma semana de trabalho no Rio com uma  camiseta do Flamengo de presente. Pense na euforia da criança que ganhou de presente uma camiseta oficial do time que tinha acabado de vencer o campeonato brasileiro e que estava prestes a disputar o Mundial de clubes no Qatar?! Pois.

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Ficamos assim: somos uma família mineira-paulista vivendo no Rio. A gente ama a cidade e gosta de verdade do Flamengo. É bom demais ver o povo feliz vestindo a camisa. Ah, me divirto quando uma amiga flamenguista roxa pergunta pra figurinista no grupo do trabalho se pode trabalhar de vermelho e preto no dia seguinte de qualquer vitória. Onde pode, o povo vai é de uniforme do time.

 

Aliás, dizem que o Flamengo não é um time, é uma nação. Acho que, finalmente, entendi. Só de pensar no menino no semáforo, vejo que é uma nação sem miséria, sem vírus, sem pandemia. Sem choro, nem sofrimento. Pelo menos, por enquanto. Enquanto a felicidade do título durar. O povo dessa nação manda saudações pra todos os outros que não estão vivendo ou que ainda não experimentaram a mesma alegria.

"Saudações!", amo ouvir.

 

*Vem pro @prisemreceita, no Instagram. Vem, gente!

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