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Cada história é única

"Mulherzice" e a incrível resiliência da mulher

Por Priscilla de Paula
Atualização:

foto: Pixabay

 

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"Mulherzice". Não tem no dicionário. Mas descobri outro dia, numa conversa com a minha mãe, que parte das escolhas que fiz na vida foi fruto de um comportamento típico de mulheres. Até então, achava que tinha acontecido só comigo, por causa da minha personalidade e dos meus valores.

 

Se for pra definir rapidamente, eu diria que mulherzice é o hábito de querer dar conta de tudo. Ou, em outro extremo, a capacidade de abrir mão de coisas que durante muito tempo você achava que não poderia viver sem. Como a realização na carreira.

 

Filha de mãe feminista, que sempre trabalhou fora, cresci vendo a minha mãe conciliar carreira e maternidade. Tivemossorte de contar com a ajuda dos meus avós e, por isso, não cresci nas mãos de quem não era da família, enquanto eles trabalhavam. Mas a minha mãe logo descobriu que, pra continuar investindo na vida profissional, não poderia ter outros filhos.

 

A trajetória dela sempre me inspirou. Cresci ouvindo em casa que eu precisava ter a minha independência. E sempre corri atrás disso. Quando voltei do intercâmbio, aos 18 anos, fui dar aulas de inglês. Foi assim que comprei meu primeiro carro, pra ir da faculdade ao estágio e, depois, ao trabalho. Mulheres costumam ser incríveis desde novinhas.

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Formada, continuei a correr atrás dos meus objetivos profissionais. Queria ser correspondente internacional. Mas a vida profissional, além do talento e da determinação, depende muito das escolhas que a gente faz e de um tanto sorte. De um tantão, talvez. Aí, quando você decide casar e ter filhos, tudo pode embolar. Fica imprevisível.

 

Para as mulheres que já têm uma vida de sucesso, um trabalho flexível ou uma jornada reduzida, as coisas são bem mais fáceis, com certeza. Nas carreiras mais tradicionais, com apenas 30 dias de férias ao ano e dedicação diária integral, a mulher que não abre mão da carreira, vai precisar terceirizar muitos cuidados. Ou vai viver a ponto de ter uma estafa mental e física.

 

Diante disso, muitas são pressionadas pela vida a desistir de tentar conciliar e abandonar o trabalho. Se não puderem abrir mão da renda, continuam a trabalhar com afinco, mas diminuem o investimento na tão sonhada carreira. A tal da mulherzice extrapola fronteiras.

 

Numa pesquisa com alunos da Escola de Negócios de Harvard, 37% das mulheres da geração Y e 42% das já casadas disseram que planejavam interromper a carreira pela família. Aos 30, metade já escolheu carreiras mais flexíveis ou saiu intencionalmente da via rápida de ascensão professional.

 

Os dados estão no livro "Deixe a peteca cair", da americana e especialista em desenvolvimento da liderança feminina Tiffany Dufu, publicado no Brasil pela editora Leya. Comecei a ler esta semana e já entendi que o objetivo é evitar que mães que trabalham fora tenham um colapso e que possam avançar na história ocupando lugares de representatividade no mercado.

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Para que isso aconteça, não depende só da nossa vontade, claro. Depende de oportunidades viáveis e de uma estrutura social capaz de cumprir seu papel. Depende também de empresas que compreendam o valor das mulheres, que queiram comprar delas ou contratá-las e de uma ética que abomine chefes maus-caracteres, capazes de minar a vida pessoal e profissional das funcionárias e de destruir a empresa internamente.

 

Se a visão, a experiência e a vivência das mulheres são importantes para transformar o mundo num lugar mais humano e melhor, o mercado precisa valorizar isso. E qual é o caminho que a gente percorre, individualmente, pra conseguir resgatar o espaço que perdeu enquanto investia no RH do futuro, as nossas crianças?

 

Eu ainda não sei.

 

Mas mulher mãe é resiliente. Tá sempre procurando uma saída, um jeito diferente. Muitas vezes, estar no mercado coincide com uma reinvenção. A gente se transforma tanto que muda até os planos. Às vezes, quer trocar de ramo, empreender... Com apoio, o caminho será sempre melhor. E mais promissor.

 

Uma coisa é certa: depois da maternidade, a gente costuma buscar saídas criativas. Dentro de casa, no mercado, na vida... Pode ter mulherzice. Mas não costuma faltar determinação , nem resiliência.

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