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Cada história é única

Educar em tempos de YouTube. Põe desafio nisso

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Por Priscilla de Paula
Atualização:

Tudo tão maluco, que a foto ficou até virada na publicação.

 

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O que leva uma criança inteligente e esperta a fazer buracos no calcanhar das chuteiras? Inocência, imaturidade, descuido dos pais. Sim. Mas, sobretudo, o incentivo que vem de canais do YouTube, com o lastro de pessoas conhecidas, como o do jogador da seleção Philippe Coutinho. Dependendo da idade, a criança pensa: "Se ele fez isso, pode ser uma boa ideia mesmo!

 

Do que adiantam cinco segundos da frase: "Não tente isso em casa!", quando um vídeo inteiro ensina e estimula a fazer uma coisa inapropriada?

 

Como sempre, na educação dos filhos, a gente se surpreende e se assusta, quando escuta essas histórias malucas de crianças que fizeram loucuras, inclusive tirando a própria vida, depois de assistir a vídeos na internet. Quem nunca pensou: "Que absurdo. Falta de noção dos pais! Como podem deixar chegar nesse ponto?!"

 

Baleia azul, desafio de inalar desodorante... e por aí vai. Não acaba nunca. Fora o conteúdo que pode provocar mortes, tem muita ideia que só provoca problema. Eu, mãe atenta e dedicada, sempre me solidarizei com as famílias vítimas. Porque sei que, você pode até ser atento, mas coisas ruins acontecem quando 'pisca'.

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Hoje, a fonte do perigo é a internet. Por mais atento que a gente seja, sempre vai ter alguma coisa que foge do controle. Você tá ali do lado, mas vai tomar banho, cozinhar, fazer a mala, o que quer que seja e acha que pode deixar... Melhor não! Descobri isso ontem, assim que me deparei com o horror de ver um par de chuteiras destruído, além de alguns meiões cortados. "Até o Philippe Coutinho fez isso, mãe. Porque fica mais confortável atrás.", ouvi como explicação. Impossível aceitar que era um par que tinha parado de servir e que ele tenha pensado que talvez, com os furos, voltasse a caber.

 

Fiquei horrorizada. Mas, mais que brava, me senti responsável. Óbvio. Afinal, nós permitimos que ele visse os vídeos no tal canal de onde veio a ideia. No caso, o Vosso Canal, com quase três milhões de inscritos.

 

Depois de conversar com meu filho, orientá-lo, falar dos riscos e do prejuízo, já que nem pra doar serve, decidi postar um vídeo no Instagram, que compartilhei no Facebook, para alertar outras famílias que, assim como eu, estão atentas, mas ainda se enganam na tentativa de equilibrar a educação nesses tempos modernos.

 

E olha que por aqui a gente até limita bem o acesso à tecnologia. Mãe e pai convergimos na história do celular. Apesar de vermos e ouvirmos que "vários amigos têm!, estamos firmes porque acreditamos que, os 9 anos, nosso filho não precisa. Dá mais trabalho? Claro. Mas ter filho é isso. E, nesse ponto, estou convencida de que não quero que tenham problemas evitáveis de visão, de socialização e de coluna, de tanto ficar com o pescoço abaixado, digitando.

 

Mas o tal do YouTube em casa, depois de proibir acesso aos canais mais famosos e prejudiciais, a gente não conseguiu chegar num acordo. O pai achava que não tinha problema assistir a alguns com mais atividades e brincadeiras, como o tal canal. Apesar de ficar ressabiada, acabei permitindo. Mas não é que o tempo mostrou que o que eles têm de bom, também podem ter de influência ruim?

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Além das ideias malucas, descobri outro dia a tal da "trolagem", que me deixou de cabelo em pé. Conhece? São brincadeiras de mal gosto, para tirar sarro com a cara dos amigos. PÉSSIMO! Não quero mais isso por perto.

 

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Fora as brincadeiras que fazem as crianças morrerem de rir, mas que são um perigo. Exemplo: os meninos colocam um escorregador no telhado para cair na piscina. Pense! Você é estimulado a assistir tudo e, depois, a recomendar para os amigos, "mas não experimente fazer em casa". Com que idade que a pessoa consegue filtrar isso? Vai saber...

 

Minha decisão, que causou surpresa lá nas redes sociais: desligar o computador, que tá no quarto há 2 meses e vai voltar pra sala. Vai ser assim, sim, sempre que nós estivermos fora de casa e enquanto não pudermos acompanhar. Quem dá conta de vigiar duas crianças o tempo todo, enquanto faz outras coisas simultaneamente?

 

Estamos diante de um dos maiores desafios modernos: permitir o acesso à tecnologia e impormos nós mesmos a censura que, tempos atrás, vinha na classificação indicativa, no horário de exibição e na reputação da empresa que produz ou exibe o conteúdo. Na internet, tá tudo à disposição de um clique. Termina um vídeo, o YouTube vai lá e te apresenta outro, que os algoritmos acham que valha a pena.

 

Educar hoje em dia é o desafio de salvar os filhos e de salvarmos nós mesmos desses tentáculos contemporâneos, que têm ganhado força inclusive com o financiamento de empresas riquíssimas. Experimenta ir à uma livraria de shopping sem topar com uma febre dessas na capa de um livro...

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O tal vídeo:

https://www.facebook.com/maesemreceita/videos/949523085219921/

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