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Cada história é única

As eleições nos EUA e nós aqui

Por Priscilla de Paula
Atualização:

foto: Pixabay

 

Andei pensando se ia escrever sobre algum aspecto dos impactos que o resultado das eleições nos Estados Unidos - ainda indefinido enquanto escrevo - vai ter na nossa vida. Seja qual for a escolha da maioria americana, vai ter consequência, com certeza!

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Não sei como você está acompanhando - se é que está - mas no prédio onde moro percebi que estamos de olho na apuração como se as eleições fossem no Brasil. Pra minha surpresa, foi entrar na academia ontem pra me dar conta de que a torcida está dividida. Fiquei pensando no quanto é difícil gostar de quem pensa tão diferente da gente num momento tão delicado. Ao mesmo tempo, pensei: "Sou tão bacana. Será que eles ficaram com preguiça de mim, como eu fiquei deles?" 

Democracia nos tempos atuais tem sido exercício de tolerância, super necessário. 

 

 

Mas já que a intolerância está rolando solta, estou preferindo evitar o desgaste. Melhor mudar de assunto. Talvez, então, eu possa falar da decisão do Oregon, estado que me acolheu por um ano, na década de 1990, de descriminalizar o uso de todas as drogas.

 

Eu tinha 17 anos quando fui fazer intercâmbio pelo Rotary, em La Grande - "eastern Oregon, middle of nowhere". Uma cidadezinha de 12 mil habitantes, que me permitiu realizar o sonho de viver um ano naquela cultura que eu via nos filmes, antes mesmo do Reed Hastings pensar em criar a Netflix. (Aliás, teria sido bacana se algum colega da minha high school tivesse virado uma personalidade do país.)

Aprendi muita coisa. E vi que o fundamento do programa - de semear a cultura de paz no mundo, dá certo há anos, porque a gente aprende a conhecer e a amar o país que nos acolhe e prefere qualquer caminho que não seja o da violência e da guerra.

 

 

Pois, bem. O estado, que fica acima da Califórnia e que meu tio costumava chamar de Orégano só para me testar é, agora, um dos 40 estados que já avançaram na autorização de uso da maconha. Eu, que fui muito bem recebida, inclusive por uma família presbiteriana, cristã como eu, e ainda tenho amigos por lá, achei uma evolução a decisão dos eleitores. E olha que eu sou careta: não fumo, não bebo e não uso drogas.

 

"Priscilla, como assim evolução? Que absurdo!" É que reconheço que a mudança da punição de prisão para a multa vai continuar a ser um fator que inibe milhares de pessoas a começarem a consumir drogas. Pense na questão do trânsito: se você sabe que corre o risco de levar uma multa e colocar a sua vida e a de outros em risco se beber e dirigir, você pensa duas vezes se vai sair com o carro. 

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Se não pensa, está errado!

 

E no caso das drogas, lá no Oregon, os eleitores acreditam que a cobrança de multa será mais eficiente do que lotar cadeias, como acontece no Brasil, prendendo usuários como se fossem traficantes. Além de entupir o sistema penitenciário, muitas dessas pessoas costumam sair piores. Ou seja, a consequência é ruim pra todos, inclusive para nós, caretas. Deu orgulho do Oregon. 

 

 

Aí, enquanto comemorava, lembrei-me de uma outra coisa que já mudou a minha vida imediatamente esses dias: a volta às aulas, na pandemia. Do alto da minha imunidade temporária, atestada em exame de sangue pós COVID19, decidimos mandar nossos filhos para a escola. 

 

A caçula tem ido apenas dois dias na semana. O mais velho, quatro. Esta semana, no primeiro dia dos dois na escola, eu senti um alívio e uma felicidade como se tivesse tirado o sapato apertado. 

 

Ontem, em meio a um estresse comum durante as atividades remotas, pensei: "Gente do céu, deve ter muita mãe por aí preferindo assumir o risco de contaminar a família do que continuar com os meninos em casa!"

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Foi um desabafo pra mim mesma, num momento de cansaço mental, já que tenho a consciência de que a preservação da saúde é o mais importante. Uma amiga querida, madrinha de casamento, vive isso com o filho de 14. Não pode mandá-lo porque o pai é do grupo de risco. Já pensou, mandar o filho pra escola, a criança se contaminar, transmitir o vírus e alguém da família morrer? Misericórdia.

 

O fato é que a reabertura das escolas está forçando muitas famílias a repensar sobre o retorno. Fui fazer uma reportagem numa escola que está no formato híbrido e ouvi de um pai que, com o retorno, está muito mais difícil manter as crianças em casa. Antes, por mais difícil que fosse, todas estavam no ensino remoto. Agora, algumas estão tendo a chance de reencontrar colegas e professores, mesmo sem abraços e com a chatice do controle sanitário e das máscaras, necessários.

 

Moral da história?

Precisava elaborar um pouco sobre essas coisas que mexem com a nossa vida e com as nossas relações. Aliás, como é bom o alívio de quando acaba uma aflição, né?!

Peraí, será que já tem resultado nas eleições dos EUA?

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E em menos de 10 dias somos nós brasileiros que vamos às urnas. Só não vá fazer igual ouvi no salão: "Alguém tem um candidato a vereador pra indicar?" 

Socorro! A pessoa se preocupa com o Trump e não enxerga que pode ajudar a jogar todos nós e o futuro dos nossos filhos num abismo?! É dose!

 

*Vem pro @prisemreceita, no Instagram. Vem, gente!

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