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Teretetês e conversês

Há sempre um abutre de olho em quem corre chorar no banheiro.

Caro leitor -

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Por Lusa Silvestre
Atualização:

Chegou ao meu conhecimento que você anda maltratando seu amor.

 

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Você não liga quando disse que ia ligar, fala uma coisa e na hora H faz outra, enche a cara e dá barraco, não abre a porta do carro para ela entrar, não manda flores nunca, não a inclui nos seus planos mais ambiciosos.  As mensagens do seu celular são mais comprometedoras que a compra da refinaria de Pasadena, você some todo sábado de tarde, larga da mão dela quando aparece uma outra moça bonita  - e vamos parando por aqui porque podem ter crianças lendo.

 

Evidente que você tem justificativas. Quem maltrata a namorada realmente é um sujeito frio, vil e calculista - e sempre dá pra planejar uma saída, pensar uma desculpa. Nosso trânsito é horroroso e o sinal de celular cai mais que o Neymar. Tanto um como o outro servem de álibi para você chegar - sem avisar - duas horas atrasado, cheirando Mojito.

 

Comportamentos como o seu fazem homens terem má fama.Mas não estou aqui pra julgar. Estou aqui só pra dizer o que vai acontecer.

 

Primeiro, ela vai chorar até o Sistema Cantareira deixar de ser um problema. Você não vai ficar sabendo desse choro todo porque ela vai se debulhar escondido - banheiros servem pra isso mesmo. Vai ser tanta água que as amigas vão precisar de bote salva-vidas. Elas vão em socorro, vão fazer massagem cardíaca (o lugar que mais dói é o coração, sempre), vão carregar pra fora do maremoto.  E, como é do feitio das grandes amigas, vão cair na orelha da sofrida moça sublinhando com caneta amarelinha todo seu currículo. Vão ressaltar o valor dela, exatamente aquilo que você não quer. E como do chão não passa, com a devida interferência só tem um caminho pra auto-estima da namô: pra cima.

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Ela vai começar a não ter paciência com suas histórias. Vai perceber que não merece. E, num lance bobo, tipo você aparecer com a roupa do futebol quando ela pretendia ser levada num restaurante, pronto. Dançou, Playboy.

 

Aí você vai até fingir-se feliz e cair na gandaia. Pode parecer interessante por um tempo, mas uma hora você tem que voltar pra casa. Vazia. Você vai correr na mesma hora fuçar o feice dela. Outro erro: na rede social todo mundo é feliz e ela também vai ser. E cedo ou tarde vai postar uma foto com outro, usando um hashtag cruel como #toufacinhamesmo.

 

E, rapaz, a ideia de outros homens pondo a mão no que era seu vai se instalar no seu cérebro - e nada vai aliviar as imagens criadas no córtex, a área do ciúme (prepare-se: é a mesma área que identifica as piores dores físicas). Você vai ligar cem mil vezes pra ela, de pileque, no meio da madruga. Ela vai atender as primeiras - mas, depois, nem email mais. E aí inverteu: ela está pra cima, tirando o atraso - e você no lodo parvo da dor nos cornos.

 

Claro, estou sendo super pessimista.

 

Nada disso pode acontecer. É como o tal aquecimento global: pode ser só exagero de um cronista apocalíptico. Mas, por via das dúvidas, custa tratar sua amada direito ? Tome cuidado. Seja esperto. Sempre há um abutre de olho gordo em quem corre chorar no banheiro.

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