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Comportamento, saúde e obesidade

Opinião|Portar-se como vítima pode ser um excelente disfarce de controle

Nem sempre o poder está realmente nas mãos daquele que grita, e sim no que aparentemente se cala

Foto do author Luciana  Kotaka
Atualização:
 Foto: Estadão

 

Esse tema me lembra várias histórias que ouvimos por aí de pessoas que são dominadas pelos seus parceiros, que reclamam o tempo todo e para todos que encontram a sua frente, mas na hora de tomarem uma atitude, permanecem no lugar da vítima infeliz.

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Pessoas com esse perfil se colocam em posição de inferioridade, por mais que se tente ajudar a encontrarem uma saída para que possam conquistar a liberdade e a felicidade, habilmente terão respostas na ponta da língua para justificarem sua escolha de permanecerem nesses relacionamentos, deixando as pessoas ao seu entorno com a sensação de impotência.

O interessante é que passamos anos julgando o parceiro ditador e esquecemos de que cada um é responsável por suas escolhas. Como é que tem pessoas que jogam tudo para o alto e saem com nada no bolso para buscarem a felicidade e outros que mesmo tendo condições escolhem permanecer nesse lugar de tanto sofrimento?

Muitos dirão que são masoquistas e em parte estão corretos, mas talvez possamos pensar mais amplamente, será que não se trata de relações sadomasoquistas?

A verdade é que essas vítimas têm uma característica muito interessante que passa desapercebida pela maioria das pessoas e inclusive por elas mesmas, que é a desqualificação do parceiro. Desta forma, enquanto um machuca claramente o outro frente às pessoas, utiliza-se de formas mais sutis para machucar, só que usando a desqualificação.

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Espero que agora comece a cair as fichas e lembre de quantos momentos ouviu essas pobres vítimas falando horrores das pessoas das quais convivem.

Nunca me esqueço de um caso em que a pessoa colocava pessoas da própria família, das quais jurava amar, jogando umas contra as outras, utilizando o terceiro ditador para humilhá-las em diversas situações, mas de forma alguma sendo capaz de reconhecer o jogo ardiloso que tecia continuadamente.

Na verdade esse jogo é muito doentio, como toda patologia que envolve o emocional fica claro que esses desajustes ocorreram lá na primeira infância, perpetuando comportamentos inconscientes que afetam a qualidade de vida em geral e a de todos ao seu redor.

Não há culpados, e sim vítimas, onde qualquer um dos lados foi precocemente afetado, levando para a vida adulta comportamentos desajustados que visam na proteção do eu, buscando um equilíbrio interno para dar conta do externo e vice-versa.

Talvez agora fique mais fácil olhar para esses relacionamentos sem apontar e designar um culpado, mas sim ampliar o olhar e entender que todo relacionamento funciona com uma certa harmonia, um se encaixa no outro, como chave e fechadura.

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Afinal, quem somos nós para escolhermos o destino do outro e o que é certo e errado, não é mesmo? No texto, o perfil do qual escrevo se refere às pessoas que vivem o vitimismo, como se o outro fosse sempre o grande culpado, não assumindo a responsabilidade por ser feliz. Mas o mais importante, é entender que o controle nem sempre vem do ditador, como costumeiramente interpretamos, e sim de quem se coloca na posição de passividade.

Opinião por Luciana Kotaka
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