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Comportamento, saúde e obesidade

Opinião|Como sobreviver a uma família invasiva?

Buscar ajuda terapêutica pode ser o caminho mais assertivo para alcançar um estado interno de paz

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Foto do author Luciana  Kotaka
Atualização:

 

 Foto: Estadão

Em algum momento da sua vida você já percebeu que os seus pais não te respeitam e invadem a sua privacidade? Que por trás de toda boa intenção há a tentativa de controlar o que você faz e como você administra a sua vida? Esse é um assunto bem delicado e ao mesmo tempo muito importante, pois muitas vezes não percebemos de forma clara esses comportamentos que acabam interferindo e comprometendo a nossa vida familiar, amorosa, profissional e social.

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Quem tem filhos sabe muito bem como é desafiador deixar que os mesmos façam escolhas sozinhos, nos acostumamos desde que eles nascem a cuidar de tudo, fazemos o nosso possível para que eles estejam seguros. Mas a questão é que à medida que eles crescem começam a escolher as próprias roupas, o que querem comer, os amigos, e nem sempre essas escolhas são bem recebidas por nós pais.

Em uma família com um funcionamento saudável essa relação vai sendo estabelecida com muito cuidado e carinho, ao mesmo tempo que os filhos vão conhecendo e querendo explorar novas possibilidades, os pais estão ali por perto para orientar, conversar, dar alguns limites, mas também vão soltando, respeitando e acolhendo as novas escolhas que os filhos fazem para que se sintam seguros para ir para a vida.

Mas nem sempre esse processo acontece assim, muitos pais sentem muito medo de lidar com esse momento, começam a se sentirem inúteis, excluídos, pois vão perdendo a função que exerceram desde que o filho nasceu. O medo se mistura em meio a tantos conflitos e muitos pais seguem ignorando esses sentimentos, continuam tentando interferir na vida dos filhos em nome do amor, mesmo que isso traga conflitos e dor no relacionamento com eles.

O fato é que alguns pais ignoram a necessidade dos filhos terem seus próprios interesses, estão tão centrados em seus próprios medos e necessidades que ignoram os filhos, não confiam em suas escolhas e desvalidam as suas conquistas, justamente com o intuito, mesmo que inconsciente, de controlar as suas ações. Não conseguem perceber que há limites que não devem ser ultrapassados, não compreendem a diferença entre amor, carência, preocupação, respeito e cuidado, pois provavelmente também passaram por situações semelhantes, aprenderam a agir de forma invasiva com seus cuidadores e apenas reproduzem esse modelo.

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Dentro desse contexto tão complexo e patológico sobreviver se torna um trabalho exaustivo, despendemos de uma quantidade imensa de energia tentando nos defender de ataques verbais, escapar do controle e respirar com tranquilidade. Cada vez que relaxamos o processo recomeça ainda mais forte, sendo impossível ser feliz no meio de tantas cobranças, invasões e destituições. Infelizmente é raro conseguir que o outro perceba as suas ações, mesmo que explique e tente lhe mostrar o quanto é dolorido conviver com essas situações, pois como já escrevi acima, o é invasivo não gosta de se sentir limitado, ele está sempre agindo de acordo com o próprio desejo e inseguranças.

Quando uma pessoa percebe estar vivendo em um ambiente assim é importante desenvolver comportamentos que lhe protejam, e infelizmente quanto menos se expor e conseguir dar limites, mais conseguirá delimitar o seu espaço. Apesar de parecer ser fácil seguir essas duas pequenas orientações, na verdade é um desafio muito grande, pois além de ter que aprender a se fazer respeitar, terá que lidar com toda situação de forma a não se afetar pelos comentários e comportamentos dos familiares.

Entender e aceitar que cada pessoa coloca para fora o seu interno é uma dificuldade que todos nós enfrentamos, conseguir olhar para o que o outro projeta em nós e deixar passar sem nos identificar é um grande desafio, e é quando aprendemos a manejar essa questão que conseguimos viver em paz e seguir o nosso caminho com confiança.

Toda família por mais disfuncional que seja nos traz muita aprendizagem, são essas relações que nos preparam para o mundo, para lidarmos com as intempéries da vida, e quando desenvolvemos essa consciência passamos a aceitar e transitar melhor por essa realidade. A terapia é um caminho importante nesse processo, porque visa a fortalecer seu eu interno para que desenvolva ferramentas internas para transitar com mais facilidade por situações difíceis a que somos expostos, pois muitas vezes sozinhos não conseguimos ter coragem, força e clareza para mudar a nossa realidade.

 

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Opinião por Luciana Kotaka
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