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Comportamento, saúde e obesidade

Opinião|Autocompaixão, você já experimentou?

Quando desenvolvemos a autocompaixão abrimos um caminho para uma relação mais autêntica conosco e com o todo

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Foto do author Luciana  Kotaka
Atualização:
 Foto: Estadão

Há algum tempo fui tocada pela autocompaixão, no começo não dei esse nome ao processo que estava vivendo, mas aos poucos fui sentindo as mudanças em minha vida, a realidade ao meu redor foi se transformando a partir desse sentimento.

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Lembro no passado que as pessoas riam ao meu lado e eu esboçava um sorriso torto tentando não passar pela chata, a estranha. Via as mesmas bebendo muito e bravas porque eu quase não bebia, nunca ficava alterada. Fui percebendo que não havia nada de errado comigo, pelo contrário, eu estava no ambiente errado, rodeada de pessoas queridas, mas que não ressoavam comigo.

Passei anos vivendo situações que não me preenchiam, reforçando o sentimento de que algo estava muito errado, até que algo foi mudando dentro de mim, fui ficando alerta, presente e quando me dei conta minha vida mudou drasticamente.

O que me faz escrever essa pequena fase da minha vida é justamente o fato de identificar pessoas vivendo a mesma realidade descrita acima. Sentimento de desencaixe. Uma vida maravilhosa ao redor, mas a impossibilidade de usufruí-la simplesmente por estarem em outra sintonia, por vezes nem se dando conta que algo precisava mudar internamente.

Foi por acaso que comecei a cultivar a compaixão comigo? Acredito que não. Passei anos como psicóloga cuidando de mim, das minhas dores, erros e acertos, aprendendo a me dar colo e me aceitar como sou, com a minha história. Então, não foi por acaso. Hoje vejo que foi uma construção, demorada confesso, mas que hoje posso dizer que foi bem-sucedida.

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Autocompaixão, um sentimento lindo e intenso, uma relação muito íntima de acolhimento com quem somos. Aprendemos aos poucos deixar de lado tudo o que está fora e focar no que está dentro, não há comparações, o foco é nos reconhecer com amor e bondade. Passamos a ser mais íntegros conosco levando a uma compreensão mais realista do que nos afeta, do que ocorre em nossa vida.

Porém, quando não temos esse acolhimento, quando julgamos tudo o que fazemos com um crivo rígido, os resultados podem ser desastrosos, levando cada vez mais a baixa autoestima e desvalorização pessoal. Podemos citar como exemplo uma pessoa que não se sente bem com o próprio corpo e recorre a dietas extremamente radicais, passando os dias muitas vezes com uma fruta somente, tudo para se punir, para não pensar, na verdade na dor que a acomete. Outras vezes vemos casais desajustados, em que em deles se sujeita ao tratamento cruel do parceiro por acreditarem que não merecem algo melhor.

Poderia dar vários exemplos, mas o importante é compreender que não basta dar de si para o outro, acolher, cuidar, se não olhamos para nós mesmos com o mesmo cuidado. Mas confesso que não é fácil tomar esse caminho, pois ele é muito solitário no início, cortamos os vínculos de interdependência, nos afastamos de muitas situações, para começarmos a trilhar sozinhos a jornada de nos encontrarmos.

Nessa caminhada aprendemos a nos reabastecer de bondade, conseguimos estabelecer metas realizáveis, que faz realmente sentido para nós mesmos. Saímos do círculo vicioso de nos culparmos por tudo e aprendemos a olhar com autorresponsabilidade para os erros que cometemos,  e sem medo vamos nos fortalecendo ao encará-los de frente. Aprendemos com tudo o que nos acontece, o foco muda, saímos do vitimismo, do que o outro nos faz de mal, e assumimos uma postura mais compreensiva, mais sábia.

Aos poucos sentimos que somos mais livres, corajosos, não nos estressamos com facilidade. A realidade ao nosso redor começa a mudar, vamos nos relacionando com pessoas mais abertas, bondosas e nos percebemos mais conectadas com o todo, com compreensão mais aguçada do outro. Esse processo abre um caminho maravilhoso, pois conseguimos ficar mais atentos e envolvidos com o todo, com o outro ser humano, com empatia e respeito. Essas mudanças possibilitam, inclusive, de conseguirmos identificar a realidade ao redor e entender a partir de um questionamento mais profundo, entendendo a reação das pessoas com quem convivemos, indo um pouco além de uma leitura rápida e muitas vezes julgadora.

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Essa realidade que vai se abrindo com a prática da autocompaixão, vai nos permitindo entrar em uma sintonia mais afinada, conseguimos ir direto ao que nos aflige e resolver com mais assertividade. Desenvolvemos um olhar acolhedor com nós mesmos e isso reverbera diretamente em tudo ao nosso redor. Nós nos tornamos felizes em ajudar o outro, em cuidar, em presentear, de uma forma simples, mas intensa, cheia de significado.

Esse é o meu caminho e o mesmo de muitos que convivo hoje e posso dizer que é muito gratificante. Espero que de alguma forma esse texto te toque, caso seja algo que sinta ser importante em sua vida. Cada um encontra uma forma de seguir no mundo, e está tudo certo. Não tem regras e nem melhores ou piores escolhas, então fique à vontade para apreciar a vida da forma que mais lhe traz a felicidade.

 

 

 

 

 

 

Opinião por Luciana Kotaka
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