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Comportamento, saúde e obesidade

Opinião|A difícil arte de empurrar os filhos para a vida

Precisamos estar atentos aos nossos comportamentos se quisermos que nossos filhos se tornem pessoas bem estruturadas

Foto do author Luciana  Kotaka
Atualização:
 Foto: Estadão

Frequentemente nos deparamos com pessoas que estão estagnadas por não conseguirem se posicionar em várias situações na vida, conviver com elas chega até dar agonia pois nunca expressam o que pensam. São adultos tipo água com açúcar, não causam impacto no ambiente que circulam, passam despercebidos e só são lembrados em momentos que possam ser úteis para alguma tarefa a ser realizada.

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Ao lermos o que escrevi acima você pode até pensar em como isso soa cruel, mas se parar para pensar irá se lembrar de várias pessoas com esse perfil. A verdade é que não são assim porque são preguiçosas, por não terem força de vontade, ou algo desse tipo, e sim porque aprenderam que não deviam se posicionar desde pequenos.

Normalmente o que vemos de suas histórias é que não eram ouvidos, seus desejos ou qualquer outra manifestação verbal eram desprezadas. Também podemos pensar que muitos ambientes familiares esperam que seus filhos sejam perfeitos, nessas familiares, os filhos aprendem a não contrariar os seus pais, incorporando o papel de bonzinhos, obedecendo todas as ordens e deixando de lado qualquer desejo que possam ter. Lembrando também que muitas vezes os filhos enxergam seus pais como perfeitos e buscam o tempo todo serem iguais a eles, deixando a própria essência de lado.

Quando crescemos em ambientes castradores, entendam que por melhores que sejam as intenções podemos sim ser castradores como pais, criamos filhos que se sentem incapazes de realizar escolhas. Eles se casam com uma pessoa para agradar os pais, escolhem a faculdade que não sentem afinidade para não causar contrariedade, vestem as roupas que lhe são compradas ou sugeridas. Posso abrir aqui muitas possibilidades e todas elas são verdadeiras, tudo depende de como foi construída a história de cada um. A questão é que por algum motivo essas pessoas não desenvolveram autonomia suficiente para expor as suas ideias e nem as defendê-las quando necessário.

Quando contrariamos nossos pais ou cuidadores estamos treinando nossa capacidade de argumentar, de defender o nosso ponto de vista, então precisamos estar atentos antes de colocar limites em todas as manifestações de nossos filhos. É preciso entender que eles não são robozinhos que precisam nos agradar em tudo, e sim que devemos ouvir e acolher as suas ideias, estabelecendo uma conversa assertiva com os mesmos.

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Muitas vezes cortamos as suas iniciativas porque nos incomodam ou porque nos provocam medo, como, por exemplo, quando eles querem subir em árvores. Na minha infância eu subia em várias, explorava a cidade andando de bicicleta, mas sabemos que hoje vivemos outra realidade, porém tem pais que não deixam nem os filhos tirarem os pratos da mesa com medo que irão derrubar no chão. Alguns pais além de não deixarem os filhos realizarem essa pequena tarefa, ainda dizem que irão derrubar tudo. Cortamos muitos comportamentos dos nossos filhos por medo, mas vivemos em um mundo onde precisamos fortalecê-los, incentivando para que eles tenham iniciativa, para que explorem diversas possibilidades.

Depois de passarmos a infância inteira de nossos filhos querendo que eles sejam educados, bons alunos, não reclamem de nada, não nos contrariem, não gritem, não desobedeçam, cobramos que os mesmos não correm atrás de seus objetivos. Se brincar nem objetivos conseguem ter, pois todos os pequenos sonhos que tiveram foram rechaçados em algum momento.

Dias atrás meu primogênito disse que iria para Florianópolis com os amigos, eu por dentro já fiquei preocupada, afinal ele nunca havia dirigido longas distâncias, mas respirei, conversei com ele e orientei. Ele estava muito seguro, feliz, e eu como mãe só podia validar o desejo dele, e correu tudo bem. Nem sempre é fácil desempenhar o papel de pais, e eu estou longe de ser a mãe perfeita, mas tento ao máximo não desvalidar os desejos dos meus meninos, incentivando que busquem os seus sonhos e não os meus.

Meu convite é para que você olhe para como está agindo, perceba em que momentos está deixando de escutar as necessidades de seus filhos em função de seus desejos e comodidade. Os nossos filhos pertencem ao mundo e não a nós, e quanto antes entendermos que eles precisam trilhar os próprios caminhos e que estamos aqui somente para auxiliarmos nesse processo, tudo fluirá. Irão cair, é claro que sim, afinal não podemos protegê-los dos percalços que a vida irá apresentar a eles, mas podemos estar com os braços abertos para acolhê-los quando retornam para casa.

 

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Opinião por Luciana Kotaka
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