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Comportamento Adolescente e Educação

Quarentena sim, Violência não

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Por Carolina Delboni
Atualização:

Ficar em casa deveria ser o lugar mais seguro para qualquer um. Mas ficar em casa para meninas e mulheres brasileiras têm sido motivo de angústia, medo e dor

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Embora seja a principal medida contra o avanço da COVID-19, o isolamento social aumenta o risco de violências doméstica, psicológica e sexual entre meninas e mulheres brasileiras. São os efeitos colaterais mais cruéis e dolorosos dessa quarentena. Escancara uma realidade brasileira que mora em qualquer bairro, em qualquer vizinhança deste país.

O Brasil ocupa o 5º. Lugar no ranking de violência contra a mulher e parece que tem gente afim de elevar essa posição. Durante a quarentena, foi registrado um aumento de 30% de violência em apenas 1 mês, pelo Ministério Público de São Paulo e 50%, no Rio de Janeiro. Meninas e mulheres são vítimas de 70% dos atendimentos notificados que chegam às redes de saúde.

Estudo recente, publicado e elaborado pelo Núcleo de Gênero, do Ministério Público de São Paulo, coordenado pela advogada e promotora Valéria Scarance, e pelo Centro de Apoio Operacional Criminal, o "Raio X da violência doméstica durante o isolamento: um retrato de São Paulo", confirma por números a manchete que está em muitos lugares: a casa é o lugar mais perigoso para meninas e mulheres. 66% da violência acontece ali, segundo estudo.

Estar em casa deveria significar proteção, mas nem sempre é assim para muitas meninas e meninos no Brasil, especialmente para meninas. A casa também pode ser um lugar inseguro para mulheres - o que pode significar estar 24 horas por dia ao lado de um agressor. É em casa ou em seu entorno que acontecem quase 500 mil casos de violência sexual no país todos os anos. A cada hora, três meninas menores de 18 anos são estupradas.

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De acordo com estudos, a maioria das vítimas é violentada por alguém conhecido e a violência ocorre dentro de casa, na família. Diante disso, é preciso ter em conta que a medida de proteção ao coronavírus que isola crianças e adolescentes traz repercussões significativas que não podem ser ignoradas e precisam ser endereçadas o quanto antes.

Inúmeras campanhas já entraram no ar para combater a violência contra meninas e mulheres durante o isolamento social e entre elas, #QuarentenaSimViolênciaNão, que tem 30 organizações públicas e da sociedade civil atuando na frente do combate. Entre elas, Plan International Brasil, Girl Up, Força Menina, Engajamundo, RockCampBrasil, ACMUN, Think Twice, Instituto Alana, Gol de Letra e Instituto Liberta. Todas as 30 organizações estão realizando ações conjuntas e próprias para garantir a proteção de crianças e adolescentes que podem ser expostas a um maior risco de violências.

 Foto: Estadão

A ideia da campanha é informar sobre os riscos e meios de denúncia e prevenção por meio de conteúdo em redes sociais. É também atuar em parceria para ações de incidência política com órgãos públicos e entidades da sociedade civil que possam incentivar a denúncia das violências e o combate direto a elas.

Com a pandemia, além do isolamento e do medo, vieram também o desemprego e as dificuldades econômicas. O Datafolha indica que 69% das pessoas perderão renda na crise e famílias mais pobres serão mais atingidas. Embora esta seja uma crise mundial sem precedentes, fatores como isolamento, dificuldades financeiras, controle da vítima e consumo de álcool já eram apontados nacional e internacionalmente como fatores de risco para mulheres, de forma alternativa ou cumulada.

Outra consequência direta do isolamento é o aumento do trabalho infantil doméstico. "As famílias consideram que meninas são adultas em miniatura e isso faz com que achem normal e exijam que elas sejam inteiramente responsáveis por limpeza, preparo de alimentos e cuidados com outras crianças, impedindo assim que acessem seu direito a lazer, estudos e impactando seu desenvolvimento", afirma Viviana Santiago, gerente de gênero e incidência política da Plan International Brasil.

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A violência doméstica, presente na vida de milhões de mulheres, afeta as crianças e adolescentes também: episódios de violência física, violência psicológica especialmente contra as meninas são comuns - e muitas vezes motivam a saída de casa, resultando em casamentos infantis como fuga dessa realidade. Para as mulheres, a violência doméstica pode terminar em feminicídio.

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Na cidade de São Paulo, por exemplo, dados preliminares de boletins de ocorrência já apontam que os casos de assassinato de mulheres dentro de casa dobraram durante o período do isolamento social até agora, quando comparados ao mesmo espaço de tempo no ano passado. "A colaboração entre as ONGs que apoiam a campanha #QuarentenaSimViolênciaNão vai permitir que mais pessoas sejam informadas sobre seus direitos e sobre os canais para realizarem denúncias. Esta é uma campanha para toda a sociedade", diz Viviana.

Por isso, colabore, divulgue, fique de olho, meta a colher se escutar algo no vizinho e denuncie. #Disque100 #NãoMeToque

 Foto: Estadão
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