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Comportamento Adolescente e Educação

Meninos e meninas, uma questão de gênero

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Por Carolina Delboni
Atualização:

Cada um pro seu lado. O que é permitido a um não é a outro. No mundo estereotipado, meninos usam azul e brincam de carrinho, e meninas usam rosa e brincam de bonecas. Segregação de gêneros. Será que esse modelo ainda funciona? Ou melhor, funcionou algum dia? Internautas identificaram, no começo do mês, a remoção dos botões "for girls" e "for boys" da gigante Amazon.com. A empresa americana ainda não anunciou formalmente a mudança de catalogação no site, mas já deixou claro que existe uma mudança de comportamento - muito importante por sinal. A atitude reforça uma tentativa de diminuir o preconceito de gêneros - e entre gêneros.

 

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No mundo da moda, os últimos desfiles masculinos que aconteceram há poucos meses acenderam a discussão sobre gênero também. Numa tentativa de neutralizar a imagem de masculino e feminino, e permitir que ambos possam usar aquilo que bem entenderem, a passarela trouxe uma imagem nova aos olhos dos mais acostumados. Não é a apropriação do guarda-roupa masculino ou do feminino. É a desconstrução de uma imagem até então carregada de códigos e estereótipos. Tudo isso por quê? Porque na vida real se discute o que é território masculino e o que é feminino. Discute-se igualdade de gêneros e de direitos. Discutem-se salários iguais. Discute-se a possibilidade de mulheres chegarem a cargos importantes em empresas com o mesmo peso que homens. Discute-se a figura feminina trabalhando como engenheira química dentro de uma fábrica rodeada por homens. E ainda bem que temos a americana Debbie Sterling, que criou uma linha de brinquedos para meninas que querem ser engenheiras e não brincar de bonecas.  É a GoldieBlox, uma tentativa feliz para mudar a situação atual, na qual apenas 11% dos profissionais do setor são mulheres.

 

Precisamos de mais pais e mães com menos preconceitos, e menos medos, para ajudar mudar ainda mais a situação. Porque tudo começa em casa, quando na inocência você diz a sua filha que isso não pode porque "meninas não sentam assim" ou "meninas são comportadas".  Meninas arrumam o cabelo; meninas usam vestido; meninas não mostram a calcinha; meninas não sujam o sapato; meninas não brincam de luta; meninas não jogam bola; meninas não vão a casa de meninos. A lista é grande. E do lado oposto do campo também tem a batalha dos meninos. Porque meninos não podem brincar de bonecas e muito menos de casinha. Meninos não usam rosa; meninos não podem experimentar o batom da mãe ou o esmalte (eu hein! Que pânico!); meninos não podem aprender a costurar; meninos não vão a casa de meninas; meninos não usam cabelo comprido; meninos têm voz grossa; menino tem que ser macho. Meninos não choram. Como assim meninos não choram? Choram, sim! São humanos e cheios de sentimentos. Mas a sociedade entra em pânico com a possibilidade de um filho ser gay. Então priva-se a criança de tudo que pode remeter ao universo oposto na tentativa de "protegê-la do mal". Sob a ilusão de não deixá-lo ter contato com o feminino, ele está supostamente protegido. Oi?! Isso é sério mesmo? Em 2015.

 

Meninos têm vergonha de entrar em lojas de menina ou brincar de coisas de menina. E as meninas sentem-se rebaixadas pelos meninos nas brincadeiras coletivas porque, supostamente, eles são mais fortes. E num ato importante a gigante de absorventes americana Always, levanta a discussão de gêneros e coloca no ar uma campanha que tem como manifesto Always #LikeGirl. Vejam o vídeo, pois é melhor do que eu contar aqui. Tá lá no YouTube. Porque antes de falarmos de meninos e meninas, estamos falando de crianças. Que não segregam, não separam, não fazem distinção e nem correção. Brincam porque querem brincar. Simples assim.

 

E a Câmara Municipal de São Paulo votou o Plano Municipal de Educação, mas, em primeira instância, excluiu das escolas o debate sobre a questão de gênero. E nem mais a Disney cria princesas como antigamente. Veja Valente, que não penteia o cabelo e não usa vestido de brilho. O vestido da Frozen brilha, mas é azul. Nada de rosa. Tem também o amor entre irmãs que é mais forte que o príncipe encantado. Aliás, nessa história o príncipe é do mal. Em Mad Max, Charlize Theron é a heroína do filme. Ela se preocupa com o mundo, é ela quem questiona a humanidade. Na vida real, a empresária Maria Luiza Trajano briga para que o governo estabeleça cotas femininas em conselhos. E cinco mulheres engajadas lançaram um manifesto chamado Alô, homens: sem diversidade, #nãotemconversa. Isso significa que nenhuma mesa de discussão pode acontecer apenas com a presença de homens. Precisa ter, pelo menos, uma mulher participante. 703 empresas já assinaram e se comprometeram com o manifesto, com a mudança de comportamento em sociedade. E na Finlândia, pais número 1 no ranking de educação, se discute e se aprende educação sexual e gênero na escola. O resultado é o início da vida sexual tardia, aumento do uso de anticoncepcional e redução em abortos. Aqui somos o número 1 em homofobia. E tem gente que ainda não entendeu a mensagem e continua a se preocupar com as brincadeiras de criança.

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