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Comportamento Adolescente e Educação

Conversa com uma amiga italiana

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Por Carolina Delboni
Atualização:

Das maneiras mais diversas, de um continente a outro, temos criado maneiras de mantermos os encontros ativos. Aqui, conversa com uma amiga italiana

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Samanta querida, como vão as coisas por aí? Temos acompanhado tudo pelos jornais e estava preocupada com vocês. E as crianças na escola? Me dê notícias.

Olá Carolina! Te digo que já atravessamos dias melhores. Não sei o que vocês têm visto no noticiário, mas na Itália as escolas estão fechadas por causa do coronavírus. Estamos todos barricados em casa e só podemos sair para fazer compras, uma pessoa por família apenas. Temos que sair de máscara e usar luvas para manusear as compras e sempre manter 1metro de distância das pessoas por segurança. Estou em casa com minha mãe, mas sinto muita falta das crianças.

E elas, como estão? Notícias? E o Walid? A Maya? Tenho saudades

Ah... ele continua oscilando. Tem dias que está tudo bem e tem dias que ele dá muito trabalho. Mas estamos sempre acompanhando. Maya cresceu muito! Já não é mais aquela menina pequena que você conheceu. Mas agora estamos todos em contato virtual apenas. Mesmo com os pequenos. Tenho preparado muito material e atividades para eles. Veja esse vídeo que gravei instruindo sobre como fazer uma atividade

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Que graça! Agora sabe o que eu mais gostei? De ver um pedacinho da tua casa...a toalha da mesa bordada e poder escutar tua voz. Que delícia! Estava com saudades disso.

 Foto: Estadão

Sabe...é uma oportunidade das crianças se relacionarem com a gente de outra forma. É importante que elas nos vejam, escutem nossas vozes e se mantenham ocupadas. Ainda que nada disso substitua nossa presença e a ida deles a escola todos os dias

Sem dúvida! Aqui, começamos a parar e as escolas estão tentando se organizar nessa semana que passou. As públicas fecharam. Não tem jeito! Não existe computador, o que dirá internet na casa das pessoas. E as particulares estão se organizando. Ninguém sabe muito bem como fazer, mas sabemos que precisamos garantir meios de encontros

As famílias têm reclamado aqui também porque muitas não tem internet em casa. Mas pra quem tem, é muito importante. As crianças aqui têm gostado muito dos vídeos que a gente manda. Os pais agradecem e é uma forma delas entreterem com algo mais pedagógico. Eu procuro sempre pensar em atividades que elas possam ter os materiais em casa e dai vou fazendo como um tutorial

Eu vi! Adorei o vídeo das minhocas coloridas. Por aqui, fizemos um primeiro contato com as crianças via plataforma da escola e é de cortar o coração as falas que elas trazem. Dizem sentir falta de ir à escola, trazem a solidão do dia a dia e sentem a mudança na rotina. E, a grande maioria, sente não poder ver os avós. As crianças aqui ficam muito com eles. São quem os levam a escola, buscam e fazem as coisas cotidianas muitas vezes. Eles estão muito sentidos. Falam tanto das preocupações com a saúde dos avós como a falta de que fazem na vida. Dizem que sentem um vazio enorme. Uma aluna, disse que os dias parecem não importar. Difícil, né? Eu fico dolorida. Não sei como lidar

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Minhocas de tiras de papel colorido feito por professora italiana às crianças via tutorial  Foto: Estadão

Por isso a gente foi para as janelas e terraços cantar. Foi a forma que encontramos de sorrir um pouco pra vida e mostrar as crianças outras formas de viver, ainda que com tantas restrições. A gente precisa dos encontros. Eles nos fortalecem. Uma forma de dizer ao mundo que vai ficar tudo bem

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É lindíssimo de acompanhar! Linda maneira que vocês acharam de manter os encontros, de encurtar as distâncias. Porque a solidão é tremenda, não?

Pior que o silêncio nas ruas, Carolina, é o silêncio que se pronuncia em toda a Itália. O país está em silêncio. É dolorido demais! Porque é um silêncio que não acontece só dentro da gente. É dentro de todos nós. Imagine seu país em silêncio?!

Não consigo nem imaginar, Samanta. Estamos tão habituados ao caos, ao barulho, ao movimento que nem sei... Estamos na primeira semana da quarentena e já vivo uma angústia desmesurada.Essa semana, entrei no carro e fui andar na rua. Andei por todas as avenidas de maior trânsito na cidade. Não encontrei ninguém. Nada! Era só silêncio. Oscilo entre o otimismo e o caos. Precisava ver o céu por outra perspectiva. Mas a angústia está em não saber quanto tempo isso vai durar. Quanto tempo vamos ficar trancados dentro de casa sem poder ver as pessoas. A vontade dos encontros nunca foi tão forte entre a gente e não sabemos o quanto somos capazes de aguentar

Fiquem dentro de casa, a situação é grave! No norte da Itália, especialmente na Lombardia, os hospitais estão em colapso!!! Nunca vimos morrer tanta gente quanto agora. Só na Guerra. No Sul, a situação ainda é controlável por enquanto, mas temos medo. A única coisa que podemos fazer é ficar dentro de casa. Ninguém sai nas ruas. Está proibido e deve-se respeitar. Trabalhamos todos agora de casa. A vida mudou por completo. Somos um país democrático, mas em estado de emergência. É o que chamamos de estado de sítio, mas onde o Estado está a favor da população. O exército está na rua e tem que estar. Mas vai ficar tudo bem! A gente tem certeza de que logo vamos poder abraçar as pessoas e as crianças também

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Vai ficar tudo bem, sim! Temos é que ter muita paciência e resiliência nesse momento. A vida voltará ao normal. E a gente espera que seja outro "normal" porque a vida, como vivemos, se mostra cada dia menos possível. Não faz sentido mais tantas coisas que insistimos em manter, não é? Talvez seja mesmo um momento de silêncio profundo que a humanidade precise viver, né

Certamente!

Quando a gente não pode estar perto é quando a gente mais precisa estar. Quando a gente não pode abraçar é quando a gente mais quer um abraço. Quando a gente quer encurtar a distância é quando a gente precisa manter distância. Mas a gente precisa de encontros. Encontros uns com os outros. E dá-se um jeito de que eles aconteçam.

Dá-se um jeito, amiga. Olha nós aqui. ANDRÀ TUTTO BENE

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