Como está a rotina das famílias com a volta às aulas
Carolina Delboni
Praticamente duas semanas de aulas e o caos já está instalado na rotina das famílias. Entre aulas presenciais e remotas, a ginástica para conseguir cumprir o novo cronograma tem exigido mudanças na dinâmica das casas
Foi-se o tempo em que se levava filho de manhã à escola e buscava meio-dia ou levava às 13h e pegava 17h30. Fosse a perua ou alguém da família que se dispunha a fazer o leva-e-traz, já estava tudo esquematizado. Mas bastou duas semanas do retorno às aulas presenciais para o caos se instalar dentro das casas. Num esforço tremendo para atender o máximo de crianças e adolescentes, as escolas se desdobraram para dar conta dos 35%. Só que para dar certo, as famílias também estão precisando se dobrar com os novos cronogramas de aula.
Tem de tudo um pouco. Tem quem leve logo cedo e tenha que buscar duas horinhas depois. Tem quem entre as 10h e saia meio-dia. Tem quem entre a 1h e saia às 15h, no meião da tarde, e ainda tem quem estudava de manhã e passou para o período da tarde. Isso, estudava de manhã e agora precisa ir a tarde à escola por conta da ocupação de 35% do espaço. Para atender bem e com segurança, algumas escolas preferiram dividir os níveis em diferentes períodos.
As crianças já sabem exatamente quais são os procedimentos a seguir para uma uma escola segura. Aurora na entrada da sua escola, em São Paulo
Taynara Bustamante, mãe de duas meninas, 4 e 3 anos, também divide a rotina entre dias presenciais e remotos. “A escola delas está usando duas unidades diferentes pra que as crianças possam ir mais vezes. Por exemplo, a Aurora vai 2f e 3f numa unidade e 4f e 5f na outra. Não batem com os dias da Helena, a menor, que faz exatamente o oposto. Quem tem levado pra escola e buscado é o Leandro, meu ex-marido e pai das meninas, porque estou trabalhando presencial neste mesmo horário”.
A ginástica que tem feito a Taynara e o Leandro não são exclusivas do ex-casal que lida com a guarda das filhas na pandemia. Muito pelo contrário. Famílias realmente têm se desdobrado para dar conta dos horários diferentes entre filhos e períodos. “Em casa tenho 3 filhos, 14 anos, 9 anos e 8 anos. Aqui a rotina mudou drasticamente. Nos organizamos para utilizar agenda do celular com alarme para não perder nada! Uma ginástica com horários remotos, presenciais e claro meu trabalho! Loucura pouca é bobagem, mas caminhando”, brinca Andreia de Oliveira Conceição.“Eu levo e vou buscar os meninos na escola, mas cada um num horário”, continua Andreia. “Quando o mais velho está em casa, fica com um menor já que o tempo é bem curto. Agora quando o mais velho está no presencial, levo os outros pequenos comigo. Está muito louco, mas adequando a essa nova realidade”. E isto é fato. Estamos de frente a uma realidade totalmente nova a todos. Não adianta reclamar com a escola, assim como não adianta reclamar com ninguém. A vida em meio a uma pandemia exige flexibilidade de maneira ampla e respeitosa.
É quase como se precisássemos aprender a viver sem planos, sem cronogramas e isto para uma sociedade tão marcada por compromissos de agenda, às vezes, fica difícil. Aprender a soltar a corda e deixar o controle mais à deriva é um exercício duro, mas necessário. O que não significa desorganização, ainda que alguns se atrapalhem.
“Coloco uns 8 alarmes por dia no celular para não esquecer qual a filha que vai, qual fica, qual tem live, qual vai na fono, natação, inglês, uma loucura”, conta em tom de brincadeira Paula Ferrari Ventura. “Tenho uma filha de 5 anos que voltou a ir todos os dias pra escola e uma de 9 que vai duas vezes na semana. Ainda está muito confuso”.
Alline Gomes, mãe solteira de duas crianças, 7 anos e 3, conta que não tem conseguido se dedicar a nada com total atenção, nem a casa, nem ao trabalho, nem a outras coisas. “A rotina da casa está estressada. A mais velha quer voltar a rotina da vida. Ela fazia ballet, pintura e não tem mais nada disso. O quarto dela vive uma zona e ela chorando. A saúde metal está sensível e eu estresso também”, conta. “Já me peguei olhando várias vezes pra casa e querendo chorar. Não consigo nem levá-las pra escola”.Alline decidiu que as filhas ainda não retornam ao presencia da escola e procura espaços na casa para as meninas poderem brincar
Mudar os filhos de escola têm sido um recurso que algumas famílias veem adotando. Na busca por melhores adequações de rotina e atendimento as necessidades dos filhos, muitas vezes a mudança se faz necessária. Foi o que fez Sabrina Martins, mãe de cinco filhos, idades 17, 15 e trigêmeas de 9 anos, dona de uma escola de ballet onde dá aulas e uma confecção com loja física. Pra ela, a experiência com o ensino remoto foi tão traumatizante que este ano decidiu que não passaria mais pelo “mal desnecessário”. “Liguei para todas as escolas do bairro e encontrei uma com aulas presenciais diárias e sem ensino remoto. Matriculei na hora e depois desta primeira semana de adaptação estou bem feliz por elas e por conseguir trabalhar”, desabafa.
Cada qual a sua maneira, famílias e filhos vão se ajeitando de um lado enquanto escola e professores, do outro. É preciso ter paciência e resiliência. Temos um longo ano pela frente. São apenas as duas primeiras semanas de aula.
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