Diga-se como contribuição ao debate que a mentalidade dos políticos brasileiros é profundamente colonial, isto é, exercem o poder em causa própria, em favor da Casa Grande, não em favor da sociedade civil, que para a maioria deles é uma Senzala. O que degenera numa país bastante arbitrário em seu espaço público, em que as leis e a punição dos delitos são para os outros.
A operação Lava Jato, e o magnetismo com que foi e é acompanhada por parcela significativa da população, mostrou, entre outras, a personagem grotesca chamada Sérgio Cabral, ex-governador do Rio de Janeiro, o exemplo mais surreal de como um indivíduo e seu esquema de assalto aos cofres do Estado compromete a saúde, a educação, o transporte público, a segurança, enfim, as coisas básicas e necessárias do dia-a-dia.
Mas, sabe-se, o que ocorreu no Rio é apenas uma miniatura do que ocorre no Brasil.
É natural, pois, que diante de um cenário assim, o brasileiro chegue à conclusão repetida de que a classe política é, com raríssimas exceções, corrupta. Ali só há vícios públicos.
Entretanto, será que a classe política não é reflexo de muitas de nossas atitudes no cotidiano?
Tome-se como exemplo o trânsito. Não é raro vermos motoristas avançarem sobre a faixa de pedestres, estes que atravessam a rua fora da faixa, o carro que fura o sinal vermelho ou que trafega pelo acostamento, que não respeita o ciclista, que atropela de propósito um animal, e assim por diante. Muitas dessas pessoas são as que dizem que os nossos políticos desrespeitam as leis e são corruptos.
Portanto, corruptos, viciosos são os outros? E aqueles vícios privados, são virtudes públicas?
O que quis dizer é que politicamente não se pode confundir vícios privados com virtudes públicas. No final das contas, os políticos que um povo escolhe representam (espelham) o que esse povo é.