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Um blog de pai para filha

Do Mundo da Lua

Fomos ao planetário, papai (seu avô) e eu. Lá pros meus 6, 7 anos de idade, eu não conseguia disfarçar a empolgação. Me disseram que eu veria o espaço todo. E, até hoje, não consigo pensar em quase nada mais empolgante que isso.

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Por Victor Sá
Atualização:

 

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Fomos ao planetário, papai (seu avô) e eu. Lá pros meus 6, 7 anos de idade, eu não conseguia disfarçar a empolgação. Me disseram que eu veria o espaço todo. E, até hoje, não consigo pensar em quase nada mais empolgante que isso.

Papai falou para corrermos. Estávamos atrasados. Juntei a empolgação com a necessidade e corri muito pelo Parque Ibirapuera, papai ficou para trás. Não que ele não me alcançasse, mas acho que adultos, com o passar do tempo, desenvolvem uma certa vergonha em correr por aí. Não sei bem o motivo, mas repara: crianças estão sempre correndo. Não fazem nada com calma. Já os adultos, no máximo dão um "piquezinho" sem perder a compostura.

Assim, cheguei primeiro. E fui o primeiro a me frustrar. Estava lotado. Ou fechado. Não lembro bem o motivo, só lembro que não ia ter nada de estrelas, planetas, luas, nada. Não lembro também o que papai inventou para fazermos no lugar. Provavelmente um cinema, boliche, ou algo assim. Mas eu lembro bem da frustração. E da promessa, nunca cumprida, de que voltaríamos no próximo final de semana.

Nunca voltamos. E, tempos depois, o planetário fechou. E eu nunca esqueci.

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A memória é desleal. Principalmente com os pais. Quer dizer, sei que papai agilizou uma pá de programas legais para fazer comigo e não me recordo bem de muitos desses. Dessa, que deu errado, eu lembro. Guardo a sensação de fracasso muito bem guardada. Sacanagem, né? Ainda mais pensando agora, da minha nova perspectiva, a de pai. Você não lembrará que fomos ao zoológico, Simba Safári, aquário, e mais um zilhão de picos divertidos. Nem das suas duas (!!) festinhas de um ano. É, você teve duas. Mamãe entrou numas e fizemos duas festinhas no mesmo ano.

Mas, ainda assim, com a certeza de que nada disso vai sobreviver na memória, seguimos inventando paradas pra fazer contigo, minha amnésiasinha. E, bem, devo confessar, é muito mais um lance para nós, os pais. É clichê e meloso, mas ver você sorrir é de fato fera demais e o que nos move boa parte do tempo. Então, se eu souber que te levar pra Lua fará você sorrir, vou tentar me infiltrar na Nasa e agilizar o rolê. Mesmo sabendo que você não lembrará da bendita Lua. E possivelmente irá se lembrar quando te prometi ir ao parquinho da Peppa e graças ao trânsito, optamos por uma livraria.

A memória é.....eita, tenho que encerrar por aqui, minha memórinha.

Não posso me atrasar por nada nesse mundo. O planetário reabriu. Nós vamos lá, e antes, vamos passar no vovô, para ele finalmente cumprir sua promessa. Mesmo ele não lembrando da tal promessa.

Independentemente de nossa memória- do que eu, você, e o vovô recordaremos- não existe nada mais legal que o espaço todo, né? Só mesmo o teu sorriso, minha astronautinha.

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Com amor maiorque todas as galáxias,

Papai. 18.02.16

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