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Estilista Ricardo Almeida divide experiência com estudantes de Moda em bate-papo virtual

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Por FAAP Moda
Atualização:
Ricardo Almeida participou de conversa virtual com alunos de Moda da FAAP  

Os alunos do curso de Moda da FAAP tiveram a oportunidade de participar de uma bate-papo virtual com o estilista Ricardo Almeida. Com o tema "A visão do estilista e do empresário sobre o mercado de moda", a masterclass foi mediada por mim, com uma dinâmica que se deu através de perguntas sobre o início de sua trajetória, a identidade da marca e a administração de uma carreira que já dura 36 anos, tornando-o um dos estilistas mais importantes do cenário brasileiro. Sua marca homônima, que se tornou referência em moda masculina, começou atuando nos segmentos masculino e feminino. Mas na última década retomou seu olhar para as mulheres.

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Segundo relato do estilista, sua carreira começou quando trabalhava em uma camisaria, o que despertou seu interesse pela criação de moldes e pelo setor específico da alfaiataria, que atua na criação (muitas vezes sob medida) de trajes formais como paletós, ternos e smokings. Sua intenção foi inovar, atualizando o ofício, ou seja, trazendo novas informações para um setor muito tradicional nos anos 1980, tornando-o, como ele mesmo se definiu, um estilista que atua na área de alfaiataria. No início de suas lojas, em 1991, ele traria como inovação no País o paletó de três botões ao invés do jaquetão, um resquício da moda nos anos oitenta.

Ao longo do bate-papo, ficou claro o envolvimento do estilista com o fazer da roupa. Como ele comentou: "você aprende a receita, mas precisa da prática para aperfeiçoar", mostrando aos alunos a importância de treinar e praticar para se chegar ao melhor resultado. Para ele, seis meses não são muitas vezes suficientes para a criação de um molde base para uma roupa, pois considera que, para se pensar em um molde, precisamos entender que ele deve servir para o maior número de pessoas.

Respondendo sobre quais seriam os principais elementos que compõem a sua marca, o estilista falou sobre a importância de se ter uma assinatura que torne o seu produto reconhecível, criando uma unidade coerente de criação. Segundo ele, sua intenção em primeiro lugar sempre foi deixar o homem com uma silhueta mais longilínea, reforçando a ideia de um homem elegante na postura e no modo de vestir.

Outra questão de identidade importante, que ficou muito clara durante outros pontos da conversa, é a sua preocupação em ter a melhor matéria-prima e criar peças com durabilidade, e que sejam exclusivas. Perguntado sobre que tipo de matéria-prima ele mais gostava de utilizar nas suas peças de alfaiataria, o criador citou a qualidade da lã, que é um tecido térmico e indicado tanto para climas quentes quanto frios, e fez questão de frisar que na sua marca ele utiliza tecidos importados, de extrema qualidade, e que são raros de se encontrar mundo afora, como tecidos que misturam lã e seda (trazendo um conforto térmico ainda maior), assim como fios de lã 3,5 vezes mais finos em média do que se encontra normalmente no mercado.

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Sendo o evento uma conversa para jovens que estão começando no mercado, foi importante a fala de Ricardo sobre suas estratégias para a construção de seu nome e fidelização de seus clientes. Lembrando o início da sua carreira, o estilista citou sua estratégia de pensar em desfiles que gerassem interesse do público feminino e, consequentemente, masculino, como a apresentação de celebridades, como o ator Edson Celulari, que participou de seu segundo desfile na época em que era protagonista da novela Explode Coração, e usou na TV as criações do estilista. Outra estratégia do criador diz respeito à comunicação que ele possui com seus clientes, pois o estilista acredita que o público masculino é bastante racional e, portanto, precisa ser informado de forma aberta sobre custos, materiais e elementos de qualidade de um produto, e também sobre de que forma ele estaria investindo em uma peça que, sendo durável, traria o retorno desse investimento com seus repetidos usos.

Hoje a marca Ricardo Almeida possui 22 lojas masculinas e três pontos de venda da linha feminina, além de venda em multimarcas. Essa expansão de lojas iniciou-se em 2010, e veio como uma resposta do empresário para a entrada de produtos importados que tomou conta do País. Nesse momento, o estilista precisou se posicionar, pois, senão, segundo ele, sua empresa sumiria do mercado. O próprio Ricardo Almeida confidenciou cuidar pessoalmente do projeto de suas lojas na intenção de traduzir fielmente seus elementos de identidade. Sua equipe, hoje, atua nos diversos segmentos que a marca possui: na própria linha masculina (com alfaiataria, jeans, camisetas e calçados) e na coleção feminina. E, entre todos os processos de criação, o estilista confidenciou que ainda participa integralmente do processo de escolha de tecidos.

Como comentou quando perguntado sobre qualidade por uma das alunas presentes, o estilista cita que "as pessoas acham que pelo fato de você ter crescido, você perde sua qualidade". Mas, na verdade, Ricardo mostrou que os investimentos em melhores maquinários, processos, assim como o cuidado com o bem-estar dos funcionários (outro ponto destacado), garantem hoje a melhor qualidade possível nos seus produtos.

Sobre sua inserção no mundo digital, o estilista falou sobre seu e-commerce, um braço novo da empresa, que surgiu exatamente durante o tempo de pandemia da COVID-19. Refletindo sobre a moda brasileira nesse contexto de pandemia, o estilista reforçou a importância nesse momento dos consumidores valorizarem o produto nacional, pois isso ajuda toda a cadeia produtiva brasileira.

Sem dúvida, todos os presentes se surpreenderam com a bagagem profissional do estilista, além de sua generosidade em compartilhar. De acordo com ele, a confecção é um dos mercados mais difíceis que existem, e se manter nele é um desafio em países como o Brasil. Mas, ao vermos sua carreira nestes 36 anos, percebemos que Ricardo Almeida soube equilibrar a fórmula que une criatividade e negócios. Como ele mesmo disse em um momento de sua conversa: "Se você quer continuar fazendo o que você gosta, você também tem que pensar no retorno financeiro".

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Por Fernando Hage - professor do Curso de Moda da FAAP, Mestre em Moda, Cultura e Arte

Professor Fernando Hage mediou conversa com o estilista Ricardo Almeida  
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