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Impressões sobre a vida e seus arredores

Seis historinhas de Natal

Ficções com algum jeito de realidade

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Por Raul Drewnick
Atualização:

pixabay Foto: Estadão

1 - A moça do ano passado - No asilo, uma das mulheres, todas com mais de sessenta anos, suspira.

"O que tanto você suspira?", pergunta outra. "Está apaixonada?"

"Estava lembrando daquela moça que veio cantar aqui para nós no Natal, aquela toda linda."

"Ih, não estou falando?"

"Não é nada disso que que você está pensando. Lembrei dela, só isso. Que voz! E aquele chocolatinho que ela deu..."

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"Chocolate?"

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"É. Uma delícia. Tinha licor dentro, lembra? Ela me chamou de menina. Menina!"

A outra suspira, concentra-se, tenta refazer na memória o rosto da moça, o chocolate. Será que foi chamada também de menina? Essas histórias de Natal sempre a deixam triste...

2 - Congraçamento - No fim da festa de Natal da firma, o boy notou que sumira seu panetone. Puseram-lhe a mão no ombro: ano que vem tem mais.

3 - Próxima atração - Quando a última fatia de peru é posta nos pratos, o espírito de Natal começa a concentrar-se na sobremesa.

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4- O amor bate à porta - No Natal, às vezes alguém atende à porta e deixa o amor entrar. Mostra-lhe a árvore, a iluminação que pisca com precisão chinesa, os enfeites, a mesa, já quase toda posta. O amor olha para o sofá. Quem sabe. Mas o anfitrião o leva para a cozinha e deixa o amor aspirar todos os cheiros. Os olhos do amor se enchem de lágrimas. O anfitrião pede enfim que ele se sente no sofá e espere. O amor tenta lembrar-se da última vez que o trataram assim. Dali a minutos o anfitrião volta. Traz um prato, onde desponta uma magnífica fatia de carne e farofa, e um copo cheio de vinho. O prato é de alumínio, o copo é de plástico. O amor quer sentar-se à mesa. O homem, porém, o conduz gentilmente de volta à porta e só ali lhe entrega o prato e o copo. Já na rua, o amor retribui os votos de feliz Natal e quer sentar-se na calçada para começar a comer. O homem lhe diz que vá comer longe dali, porque seus convidados logo vão chegar, e gentilmente lhe diz que não precisa devolver nem o prato nem o copo. Que, por favor, se for jogá-los fora, os jogue bem longe.

5 - Culpa - O leitão sacrificado no Natal ainda berra em abril e vem lamber a mão do menino nos pesadelos, pedindo-lhe que o salve este ano.

6 - Brinde - As lágrimas no frasco não podem ser vendidas separadamente. Fazem parte desta edição especial natalina.

 

 

 

 

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