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Impressões sobre a vida e seus arredores

Quando o amor nos escolhe

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Por Raul Drewnick
Atualização:

Se o amor optar por você, prepare-se. Jamais você será o mesmo. Nem sua mãe, nem seus irmãos, nem seus amigos de infância o reconhecerão. Se lhe disseram que o amor é aquele sentimento que nos realiza e nos perfaz, ouso dizer que mentiram para você. O amor nos divide, nos retalha, para melhor nos dominar. Eu nunca vi direito os olhos do amor. Você viu? Ninguém os viu, nem verá. Ninguém sabe qual é a cor deles. Eles não nos olham depois da primeira vez, quando sorrateiramente nos escolhem. Desde o momento em que somos escolhidos, pertencer ao amor é a nossa ventura. Tão docemente ele nos aflige, tão docemente ele nos atormenta, que nós nos afligimos e atormentamos ao menor receio de um dia nos faltarem essa aflição e esse tormento. Se lhe disseram que o amor é diferente disso, que ele é um lago de águas tranquilas, jamais visitadas pelo vento,e você acreditou, pode continuar com seu cineminha das quartas, seu teatrinho mensal, suas leituras de folhetos para programar as férias, seus beijinhos protocolarmente estalados depois do café da manhã e seus carinhos contados, aqueles exatos que servem como aquecimento para o exercício noturno depois do qual vem o sono tranquilo dos corpos satisfeitos. Se lhe disseram que o amor é essa rotina, essa ginástica, e você acreditou, pode continuar com elas. Mas se o amor, o verdadeiro, aquele único, pelo qual vale fazer tudo e a tudo renunciar, optar por você, prepare-se para a angústia da carne e o flagelo da alma, para a solidão, para a cama revirada pela insônia, para as lágrimas que os outros, aqueles pelos quais o amor não optou, chamam de ridículas.

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