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Impressões sobre a vida e seus arredores

Palhaços, hehehe

Que fascinantes figuras são eles

Por Raul Drewnick
Atualização:

pixabay Foto: Estadão

# Ele olhava para ela e se sentia capaz de escalar o céu para ir buscar a mais inatingível das estrelas. Ela olhava para ele e vinha-lhe à garganta a mesma gargalhada que a sacudira na tarde em que, menina, ouviu a primeira piada do palhaço, no circo.

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# Serei sempre o palhaço que todos os dias tenta melhorar seu número para encantar aquela menina que em certa tarde, há vinte anos, esteve na primeira fileira olhando para o tablado com seus olhos inacreditavelmente azuis.

# Na peça há sempre um pateta para assegurar que o povo vai gargalhar: ou um palhaço ou um poeta.

# Se eu fosse buscar a origem de minha melancolia, talvez a encontrasse na longínqua tarde em que vi, no circo, todos os espectadores observando a sorrateira aproximação de um palhaço e torcendo para que ele fizesse o que afinal fez: enfiar o bolo na cara de outro palhaço. Só eu, que me lembre, me entristeci com a cena. Se havia ali alguém sentindo a mesma indignação, seria certamente a minha alma gêmea, aquela que até hoje não encontrei.

# O poeta é como um dono de circo. Explora o amor no trapézio, submete-o ao globo da morte. Quando o amor envelhece, dá-lhe a função de malabarista. Em seguida, a de palhaço. Depois, coloca-o para vender ingressos. Uma noite assaltam a bilheteria, e o amor, eleito culpado, passa a cuidar do carrinho de pipocas, lá fora.

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# Tão ridiculamente exprimiu seu amor que, relendo os versos escritos no tempo agudo da paixão, ele se vê como um palhaço abaixando-se no picadeiro e exibindo ao público, entre as abas do fraque, as nádegas murchas como as de um prisioneiro de campo de concentração.

# Só não me retirei ainda do palco porque talvez algum espectador, o último, queira atirar-me no rosto um tomate e vê-lo esborrachar-se triunfalmente em meu nariz de palhaço.

# Um dia, o coelho e a cartola, cansados da escravidão, fizeram sumir o mágico. O número foi vaiado, a cartola dada ao palhaço e o coelho servido no jantar.

# Pior se aqueles dois chumaços de algodão nas narinas nos deixarem com cara de palhaço.

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