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Impressões sobre a vida e seus arredores

Majestade felina

Contra gatos não há argumentos

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Por Raul Drewnick
Atualização:

pixabay Foto: Estadão

Um gato é sempre melhor que um arco-íris. Nada lhe deve em beleza, acomoda-se melhor num sofá, ou no colo, e tem a vantagem de saber miar.

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Gostaria de ser um gato que tivesses acabado de recolher da rua e a quem, carinhosamente, estivesses agora perguntando se tem sido muito triste minha vida. Eu iria inventando histórias e mais histórias, para ouvir tua voz quente me consolando e sentir tuas mãos me afagando: meu gato, meu pobre gato, nunca vou deixar que te aconteça nada de ruim.

O gato já morreu há um ano, mas o seu lugar no sofá continua fundo, como se ele ainda o ocupasse. O homem sente falta dele quando cochila ali e, às vezes, ao acordar, em tardes de calor pleno, antes de abrir os olhos põe a mão instintivamente no espaço vago, e por um instante é como se o sol lhe tivesse devolvido o gato com o seu pelo morno e macio.

Me agradaria dar-te um gato. Quando vi, essa frase estava escrita no meu bloquinho, sem que eu me lembrasse de tê-la sentido passar pelo meu cérebro. Deve ter sido ditada, eu suponho, pelo meu coração. Uma ótima razão para eu mantê-la, mesmo com a possível transgressão do pronome oblíquo começando a frase. Me agradaria dar-te um gato. Não vou dizer nada mais. Preciso? Me agradaria dar-te um gato.

Amor, meu gato pequeno, quem pôde assim te matar? Que monstro pôde te dar vidro moído com veneno?

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Solitária, esquecida pelo amor, acolheu um gato cinza. Foi há três meses. Chorou tanto sobre o gato que hoje ele é branco.

Toda vez que olho para um homem e para um gato, custa-me acreditar que Deus tenha escolhido o homem como semelhante.

Como seria bom se eu fosse um gato que tivesses recolhido na rua. Sempre que eu te arranhasse, ameaçarias jogar-me de volta para o frio e a fome. Eu te arranharia mais fracamente, então, e lamberia teus arranhões.

De longe, ela viu o gato. Estava estatelado na rua, amarrotado, despedaçado. Ela nem ia olhar. Estava na hora do almoço. Mas olhou, e o gato não era senão um ursinho de pelúcia. Ela deu graças a Deus, por ter olhos tão míopes.

Te mandei um beijo e um gato. Hás de perguntar: "Um gato! Mas por que foi que ele me mandou um gato?"Espero que não perguntes por que te mandei o beijo.

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Um gato sempre pode ser mais que um gato, se estiver disposto a se esforçar um pouquinho.

Se eu fosse um gato, gostaria de ter sido o melhor gato que você houvesse tido.

Hesitava entre mandar de presente à amada um gato ou uma quadrinha. Optou pelo gato, porque lhe pareceu pouco provável que, mesmo tendo um temperamento romântico, a amada beijasse uma folha de papel.

Convém que aceites a própria insignificância, sem celebrá-la nem tentar fazê-la parecer motivo de orgulho. Só conseguirás compaixão. Se queres atrair simpatia, arranja um gato.

Não chame de ração a comida que você põe para o seu gato. É antipática essa palavra: ração, como se o seu gato fosse um bicho.

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Ver um gato dormindo é ter a ideia de como seria a felicidade, se ela existisse.

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