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Impressões sobre a vida e seus arredores

Intuição feminina

O insistente rapaz de bigodinho

Por Raul Drewnick
Atualização:

pixabay Foto: Estadão

Elaine andava sonhando com aquele homem toda noite. Não era alguém que ela conhecesse. Não era também um astro de cinema ou tevê. Ela bem que gostaria que fosse, porque o homem que lhe aparecia não podia ser considerado bonito. Pela insistência dele, ela às vezes tentava achá-lo um pouquinho melhor do que era. Se ele não tivesse aquele bigodinho esquisito, quem sabe...

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Ela dizia às amigas que não tinha sorte com namorados. O último tinha sido um maluco que, quando saía com ela, era como se não houvessesaído. Andava com uma câmera, filmando tudo: a rua, as pessoas, os prédios, os carros. Nunca a havia julgado digna de ser filmada, a não ser um dia, como coadjuvante de um gato.

As amigas diziam a Elaine que logo ela conheceria o homem dos seus sonhos. Ela sorria. Preferia um que fosse bem melhor que o dos sonhos. Um dia deram-lhe um folheto de cartomante: Madame Petruschka. Era naquela rua, número 208. Ela estava exatamente diante do 208. Parou e ficou olhando. Era um sobradinho. Numa janela, aberta, um gato dormia ao sol. De repente apareceu uma mulher que se pôs a afagar o gato. Elaine sorriu. A mulher perguntou:

"Veio me consultar?"

Elaine pensou: por que não? Um minuto depois estava dentro do sobrado. Madame Petruschka, que tinha colocado um turbante e fechado a cortina, começou a manusear as cartas:

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"Vejo, aqui, que você é uma pessoa muito sensível que nem sempre é compreendida pelos outros. Vejo também que você tem algumas dúvidas sobre o seu futuro, sobre o que você vai fazer na vida profissional e também..."

"Sobre o amor as cartas dizem alguma coisa?"

"Sobre o amor? Humm, humm. Eu vejo que existe um homem muito apaixonado por você, que procura chamar sua atenção, mas..."

"Mas?"

"Mas vejo que talvez não dê certo, porque... porque..."

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"Por quê?"

"Porque..."

Nesse instante, a porta foi aberta com violência. Elaine e Madame Petruschka viram entrar um rapaz com um estilete na mão.

"O dinheiro, o dinheiro", ele exigiu.

Elaine tremeu, mas a cartomante não se impressionou. Gritou: "Leão! Leão!" Instantaneamente, um cão enorme veio da cozinha e lançou-se sobre o invasor, que, apavorado, escapou pela porta, que tinha deixado entreaberta.

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Madame Petruschka pegou as mãos de Elaine:

"Fique tranquila, querida. Ele não volta. É o terceiro, já, que o Leão bota para correr, desde que eu me instalei aqui no bairro."

"Ele tinha bigode, né?"

"O rapaz? Tinha. Um bigodinho ridículo. Por quê?"

"Nada, não."

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Madame Petruschka concentrou-se de novo nas cartas:

"Estávamos vendo mesmo o quê? Ah, o amor. Olhe, aqui há uma coisa bem interessante."

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