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Impressões sobre a vida e seus arredores

Ah, São Paulo

Ainda suspiro por ti, meu amor, minha cidade, sempre

Por Raul Drewnick
Atualização:

pixabay Foto: Estadão

+ São Paulo, diga-se o que se disser, é um Estado um tanto presunçoso: São Paulo, capital São Paulo.

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+ Algumas das birras que me indispõem com São Paulo talvez se devam ao seu nome, tão futebolisticamente inadequado.

+ Conheci ontem, na rua de baixo, uma raridade: um homem de 52 anos que nunca foi assaltado. E já faz um mês que mora em São Paulo.

+ São Paulo é uma cidade que estimula o exercício físico. Depois de terem os carros várias vezes roubados, e serem assaltados também nos ônibus, os paulistanos vão a pé para o trabalho.

+ São Paulo é uma cidade em que os viadutos são cada vez mais tema da área de habitação que do setor de vias públicas.

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+ Se eu fosse escolher minhas madeleines, seriam os cachorros-quentes da Salsicharia Três Porquinhos, na São João. Tão estranho, isso: toda a São Paulo dos anos 1960 ressurgindo, mítica, por obra da magia de um prosaico pãozinho com salsicha e mostarda.

+ Hoje não sei. Mas, por volta de 1960, o primeiro lugar onde o sol aparecia em São Paulo era a Rua Major Quedinho, para saber as últimas notícias no Estadão, ver a hora no relógio do topo do prédio e dar mais uma espiada no mural de Di Cavalcanti.

+ São frios os dedos desta cidade, mesmo quando nos acariciam. Somos todos forasteiros para ela, porque lhe disseram que ser cosmopolita é isso.

+ Eu, que vivi tão cosmopolitanamente, não me importaria de morrer paulistanamente: saltar do Viaduto do Chá e gritar amorosamente ah são paulo, ah são paulo, ah, ah, ah, até chegar ao solo sagrado.

+ São Paulo é uma cidade muito respeitadora e religiosa. Todos os cinemas e teatros, aqueles covis de perdição, estão virando templos.

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+ As doze badaladas da igreja de São Bento povoavam tão solenemente o ar, que os passarinhos se calavam, reverentes, e esperavam até a badalada seguinte, quando as normalistas começavam a passar a caminho da Caetano de Campos, antes de voltarem a cantar a alegria de viver em São Paulo. Foi há muito tempo, eu era menino, e me ocorre agora que os passarinhos possam ser um acréscimo que fiz à paisagem da época, como tantos acréscimos que os meninos fizeram e continuarão a fazer sempre que quiserem acreditar na beleza do mundo.

+ No dia 25 de janeiro, contamos tantas mentiras sobre ti, São Paulo, exageramos tanto nos louvores. E tu nem coras, minha vaidosa cidade... Que não te doam, minha querida, estes pequenos e afetuosos puxões de orelha que te dá hoje este filho de poloneses pobresque por generosidade do destino vieram plantar-me aqui, metrópole do meu encanto e desencanto, da esperança e desesperança, do meu amor e da minha vida.

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