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Impressões sobre a vida e seus arredores

Aflições e infortúnios de um bobo da corte

Como um desastrado pode se dar mal numa situação amorosa

Por Raul Drewnick
Atualização:

Às vezes, recapitulando o quefaz de melhor na vida - tropeçar, escorregar e cair -, ele imagina que nasceu na época errada. Teria sido um ótimo bobo da corte. Quando essa ideia começa a entusiasmá-lo, surgem as objeções. Não teria vida longa na tarefa de entreter o rei e seus convidados. Logo sua face desastrada afloraria e ele, diante de duzentos comensais, pegaria um papel e leria um soneto de amor, dedicado à rainha, às suas coxas alvas e ao seu seio ebúrneo. Sempre se apaixona pela rainha, há sempre uma rainha em suas histórias. Já perdeu emprego numa corretora por comparar, numa festinha, a garota da contabilidade a uma patinha nova flutuando num lago. Poderia adivinhar que a adorável gorducha era a preferida do gerente-geral? Também não vê seu melhor amigo desde a noite em que, convidado para jantar com ele e a mulher, disse a ela que a cor azul havia sido inventada para brilhar nos seus olhos. O que ele pode fazer se, além de tropeçar, cair e escorregar, tem um lado romântico e um quê de poeta? Sempre exagerado em seus afetos, apaixonou-se numa ocasião pela princesa de uma peça de teatrinho infantil para quem escreveu versos de intensa paixão, que talvez fosse retribuída se os treze anos incompletos dela não houvessem alarmado os zelosos pais e não os tivessem levado a proibir a circulação dele por onde quer que ela pudesse fazer andar seus principescos pezinhos - mesmo que fosse no teatro e ele pagasse o ingresso. Ele é assim. Ou leva prejuízo ou prejuízo leva. Ainda não se considera um mártir do amor, se bem que haja boas possibilidades de vir a ser um. Exemplo? Há um mês frequenta uma academia de ginástica e hoje disse à dona que morrerá por ela, se tiver uma chance de estrebuchar em seus braços. Parece ser mais um de seus lances estouvados, mas é até meio científico, para os padrões dele. Em trinta dias já reuniu muitas informações sobre ela. Sabe, entre outras coisas, que o homem que aparece na academia às quintas e fica uma hora nos halteres é uma espécie de marido dela e campeão pan-americano de taekwondo.

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