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Impressões sobre a vida e seus arredores

A arte como obsessão

Quando a vida é apenas um pretexto

Por Raul Drewnick
Atualização:

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Ah, que desastrado eu sou! Queixo-me de tudo, lamento-me de tudo, todo o tempo, depois vem um dia em que chego e peço desculpas. E, já nesse dia mesmo, ou no seguinte, em vez de me emendar, volto com mais tristezas. Chopin (para falar de alguém com sangue polonês como o meu) era triste. Mas Chopin conseguia fazer da sua tristeza uma tristeza universal, uma tristeza artística. Acho a tristeza essencial para a arte. Na comédia, vejo mais artifício do que arte. Tenho uma visão dramática da vida (dramática, no caso, é eufemismo de trágica). Não digo com isso, evidentemente, que a minha visão seja a certa. É a minha e, quando digo minha, gostaria que esse minha se referisse a alguém cuja opinião tivesse valor. Sou só um sujeito que não tem aquilo que se chamava antigamente de bagagem de conhecimentos e que teima em se expressar porque um demônio interior o incita a isso. Minha consciência de que me expresso mediocremente é um dos vários males que me afligem. Acredito ser honesto, mas que peso há de ter uma arte baseada só em honestidade? Falo de sofrimento porque sofro, mesmo quando me vem a suspeita de que eu possa ser como aquele de quem Fernando Pessoa dizia que fingia honestamente, a ponto de acreditar na dor fingida. Os lugares-comuns são geralmente considerados abomináveis, mas eu estou quase a ponto de usar um, que penso definir-me perfeitamente: sou um poço de contradições.

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Ver na arte uma proeza, uma coisa que só meia dezena de predestinados pode realizar, é desarrazoado. Embora às vezes haja exceções como Shakespeare, Mozart e Picasso, a arte é um ato humano. Mas ver na grande arte (aquela que merece um A grandão, maiúsculo) algo que qualquer um consiga fazer sem uma participação da alma é uma obscenidade.

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