(Sem tempo para um texto novo, resolvi republicar um pré-carnavalesco que foi publicado lá em 2015 no blog 'Não é Você, Sou eu' - No Yahoo)
Tem um poema do Manuel Bandeira (Na Boca) em que ele conta a história de um rapaz desvairado que, em pleno carnaval, pede às mulheres bonitas para esguicharem lança-perfume em sua boca.
Lembrei do poema ao notar o tanto de meninas lindas, carnavalescas de bloquinho, que dedicaram o final de semana pré-folia ao consumo de Catuaba Selvagem.
Tem uma lasciva de pornochanchada clássica essa ideia de ver alguém tomando Catuaba direto da garrafa, com a boca no gargalo, e aquele líquido adocicado e quente escorrendo pelo rosto e manchando a camisa e... (CHEGA!)
Tive ganas de pedir um gole, de puxar assunto, de sugerir um bar ou uma bebida mais classuda. Mas Catuaba é emponderamento, é demonstração de força é um recado claro: "Fique você com sua latinha de cerveja fresca, com suas propagandas de mulher gostosa objetificada, com seu clichê de país tropical, com seu eurocentrismo branco e escravocrata globeleza. Deixe-me aqui, estou em paz, desfrutando dessa bomba alcoólica afirmativa, propositiva, brasilianista, MPB, PSTU e MPL."
Se o Gim é Shakespeariano; a Catuaba é Rodriguiana.
Catuaba é o Brasil com S.
Com Catuaba, nós somos mais brasileiros. Acreditamos no bom selvagem (nos tornamos um deles) e na possibilidade de solucionar todos os nossos problemas sociais e econômicos participando de uma ciranda de roda.
Catuaba é o Brasil inocente.
Mas voltando ao carnaval, quis experimentar o elixir da vida real, da dureza sem poesia, do Tarzan redivivo, da floresta mágica e do borogodó.
Experimentar o veneno do Romeu pasteurizado e vendido por uns 5 contos.
Fui atrás da dona de uma Catuaba. Linda. Brava. Nada amigável.É carnaval, deixa eu ser feliz. Pedi.Ela sorriu e disse: abre a boca.
Fechei os olhos e obedeci.
Esperei.
Sonhei que o beijo dela tinha gosto de Catuaba Selvagem.
Acordei de ressaca.
E com um doce amargo na boca.