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Um manual prático para desastrados

Episódio 22: Maneiras de voltar para casa

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Por Gilberto Amendola
Atualização:

Alencar me olha com espanto. Percebe minha mão no ar. Pronta para desferir um tapa. O gato mia alto. O cuco toca. O velho me pergunta o que está acontecendo. Eu, honestamente, não sei. Junior aparece do nada e me derruba no chão. Fabiana Grita. Frederica também. Isaías só observa.

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Joana avisa: "O cometa passou raspando".

A cena entre em um mode diferente. O cometa passou. LeBron foi embora. A humanidade está salva. Nenhum pratinho se quebrou. Será?

Fabiana me abraça. Um abraço de alívio. Retribuo. Uma coisa meio automática. Sem/com sentimento. Da minha boca sai um "desculpa". Não sei porque disse isso. Ela encosta a cabeça no meu ombro e sinto sua respiração pesada. Tem uma coisa que eu gostaria de falar, mas não sei exatamente o quê. Quero ir embora.

Frederica reza alto para Pazuzu. Quem está acostumado a rezar sabe que não se tem respostas imediatas. Portanto, nada de Pazuzu.

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Depois do alívio, Alencar pede para que eu me retire. Fabiana aperta minha mão com força. Está gelada. Congelada. Me lança um olhar magoado e corre para o quarto. Vai continuar com sua vida miserável.

Lamento. Mas preciso continuar com a minha própria vida miserável.

Não entendo tudo o que aconteceu aqui. Sei que fiquei um tempo no hospital, sei que me trouxeram pra cá, sei que Fabiana começou a me dizer coisas sem sentido, que disse que tínhamos um filho, que eu era daltônico, que a gente era casado...

Depois, tentei acordar Alencar. Por algum motivo inexplicável, achei que ao acordá-lo alguma coisa aconteceria e eu, finalmente, poderia me livrar dessa loucura.

Aconteceu. Mas não sei o quê.

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Agora, estou aqui.

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O detetive Isaías me acompanha até a porta. - Acabou, Lúcio. - Acabou o quê? - Uma grande oportunidade foi perdida aqui. - Que oportunidade. - Você jamais entenderia. - Talvez eu não queira entender mesmo... - Uma pena que tenha sido assim. - Sobre a Fabiana... - Esquece, ela vai ficar bem. - Mas eu... - Sei o que te aflige. Esquece, não aconteceu. Você nunca encostou em Fabiana. Não nessa narrativa. - Que narrativa? - Sai daqui. Você já tem a resposta que precisa e merece.

Não quis falar mais nada. Isaías tinha razão. Eu não precisava de respostas. Andei até o carro. Olhei no retrovisor, ele não estava mais lá. Mesmo o casarão não era mais o mesmo.

Sazerac sim. Ele estava abanando o rabo e paradinho na frente da casa. Abri a porta do carro e ele entrou. Foi o reencontro mais bonito que tive na vida. Queria saber dele como tinha sido sua vida de gato. Certeza, ele era o gato.

Meu celular estava no carro. Não me lembrava dele.

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Eu tinha uma mensagem de texto. Uma mensagem do idiota do Pacheco.

Akira estava morto. Havia sido assassinado.

Acho que ainda não acabou.

Continua.

 

 

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