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Psiquiatria e sociedade

Opinião|Você faz o que você vê

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[tweetmeme] Uns jogam objetos voadores não identificados na cabeça do candidato, outros atiram bexigas d'água na carreata da candidata: a violência surgiu nas ruas nesse segundo turno após o tom agressivo aparecer nas interações entre Serra e Dilma. Seria coincidência? Acho que não.

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Um fato que detestamos admitir é que a televisão tem um enorme poder sobre nós e nossos comportamentos. Gostamos de pensar que estamos acima dessa influência, mas os trabalhos do cientista Albert Bandura estão aí para nos desmentir.

Na década de 60 ele ficou famoso com um experimento no qual crianças entre três e seis anos eram apresentadas a uma situação de agressão: eles viam um adulto agredir um boneco "joão-bobo" de forma propositalmente mais intensa do que o esperado para o brinquedo - além de socos, havia chutes, marretadas, seguidos de frases agressivas, como "Soque-o no nariz!" etc. O estímulo foi feito de três maneiras: ao vivo ou por meio de um vídeo, que mostrava ou a mesma agressão ou um adulto vestido de gato, como nos parques de diversão, enquanto um grupo controle não via tais cenas. No segundo momento as crianças eram levadas a uma sala de brinquedos e observava-se se elas teriam comportamentos agressivos e em que medida imitariam o adulto. Não surpreende que as crianças submetidas ao estímulo foram muito mais agressivas do que as no grupo controle. Surpreendeu, contudo, que o estímulo que mais as levou a comportamentos imitativos foi ver o vídeo dos adultos agressivos.

Acho que já comentei aqui, mas vale a pena citar novamente uma declaração do Woody Allen que disse conhecer diversas pessoas frustradas por não terem a vida que viam nos filmes, como se aquele fosse um gabarito com qual medir o sucesso real dos indivíduos. O problema é que nós somos seres necessariamente influenciáveis, e imitamos inconscientemente o comportamento alheio para decidir o que fazer. Somos programados para isso, pois é mais rápido e econômico do que pensar a todo momento em cada decisão individual. Na sociedade atual a televisão potencializa esse efeito, e nela nos espelhamos - em maior ou menor grau, queiramos ou não - para pautar nosso comportamento.

Proponho duas soluções: em primeiro, tendo conhecimento disso, ficarmos mais atentos àquilo que nos influencia. E em segundo, nos inspirarmos em Groucho Marx, que dizia achar a TV muito educativa, já que sempre que alguém ligava o aparelho ia para biblioteca ler um livro.

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Opinião por Daniel Martins de Barros

Professor colaborador do Dep. de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. Autor do livro 'Rir é Preciso'

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