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Psiquiatria e sociedade

Opinião|Violência e liberdade

Quando a liberdade aumenta a violência, já não é liberdade.

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Atualização:
 Foto: Estadão

 

Até que ponto é dever do Estado intervir na vida das pessoas para garantir a segurança do cidadão? Não existe um gabarito para se chegar à resposta, é uma questão de opção. Quanto mais alguém é avesso à presença do Estado na sua vida, menos intervenção quererá. Claro que quanto menos Estado maior a responsabilidade individual por cuidar de sua integridade. A opção alternativa, dar ao Estado um papel mais relevante nas garantias individuais implica em mais intervenção.

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O discurso do atual governo aponta na direção de não se meter na vida dos cidadãos (exceto, claro, nos temas da moral e bons costumes. Mas vamos esquecer essa incoerência por um minuto para avaliar apenas os impactos do individualismo). Muitas das medidas polêmicas recentes vêm dessa opção. Uma vez que se adere a esse princípio as decisões decorrem naturalmente dele. As pessoas deveriam poder andar armadas se quisessem. Os pais não podem ser obrigados a colocar os filhos nas cadeirinhas em seus carros. Os motoristas têm que desfrutar da liberdade de andar na velocidade que bem entenderem nas rodovias. Ao Ministério Público veta-se propor ação penal contra um agressor de criança se o pai não fizer denúncia.

O argumento a favor é forte: as pessoas adultas são responsáveis por si e pelos seus próprios vulneráveis, e cada um sabe o que deve fazer da vida. Não cabe ao Estado se meter nisso.

O argumento contrário também é forte: nem todas as pessoas são capazes de cuidar da própria integridade. Não apenas por estultícia, mas também por vulnerabilidade. Tolos e minorias não querem ou não conseguem garantir a segurança para si e para os seus.

Embora me considere liberal (inclusive nos costumes) até aqui as consequências negativas dessa postura me parecem superar as positivas. Aumento de suicídio com mais armas, o aumento de mortes nas rodovias sem radares, risco de letalidade em crianças - que não escolhem por si sós -  sem cadeirinhas. Para mim é muito.

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Por mais que eu defenda a liberdade, quando ela implica na liberdade de arriscar a vida alheia o próprio sentido da palavra me parece ficar distorcido.

 

 

Opinião por Daniel Martins de Barros

Professor colaborador do Dep. de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. Autor do livro 'Rir é Preciso'

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