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Psiquiatria e sociedade

Opinião|Vilões de estimação - de Ana Paulas a Carminhas

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O ingrediente secreto de qualquer reality show está na escolha dos participantes. Assim como nas melhoras histórias, desde os contos de fadas, mitos e folclore, até os modernos best-seller e sagas cinematográficas, misturar na medida certa bonzinhos e malvados, sábios e bobos da corte, aventureiros e anciãos é uma fórmula para o sucesso.

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Esses personagens emblemáticos, muitas vezes chamados de arquétipos, apelam ao nosso inconsciente por encarnarem a padrões clássicos de comportamentos, cuja existência remonta ao início dos tempos e que estão presentes em todos os grupamentos humanos. Para onde quer que voltemos nosso olhar, sempre há um fora de lei sendo perseguido por um herói, sempre há uma donzela sendo disputada, sempre há um rei consultando um sábio para dar suas ordens.

Mas seja na vida ficção, como Carminha ou Odete Roitman, seja na vida real, como Ana Paula do BBB, os fora da lei têm uma capacidade única de seduzir as plateias. Justamente por ignorarem as leis, fazendo o que bem entendem, esses personagens realizam aquilo que todo mundo tem vontade, ao menos de vez em quando: mandar as regras às favas e agir apenas de acordo com nossos desejos. Porque nossos impulsos nem sempre nos inclinam para os atos mais nobres, as vontades mais aceitas pela sociedade, mas em nome do convívio civilizado nós aceitamos controlar tais instintos (desde que todos façam o mesmo). Além de cansativo esse autocontrole é um tremendo estraga-prazeres, já que por causa dele abrimos mão de coisas o tempo todo. Os vilões não têm que viver se policiando - e se dispõe a pagar o preço por isso. E nós vibramos tanto quando eles agem como bem querem como quando se dão mal por isso.

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Esse é, aliás, um dos papeis da ficção. Nos permitir experimentar a vida de outras maneiras, nos colocando no lugar dos personagens. Assim, só de brincadeira, podemos sentir como é viver a vida sem regras, com seus bônus e ônus, sabendo que tudo não passa de faz-de-conta. Se o prazer de se voar nas asas dos outros não é de verdade, pelo menos a queda - quando ocorre - não é fatal.

Opinião por Daniel Martins de Barros

Professor colaborador do Dep. de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. Autor do livro 'Rir é Preciso'

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