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Psiquiatria e sociedade

Opinião|Que tal uma musiquinha para criar um clima?

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[tweetmeme] "O seu problema é que você não tem rádio no carro!" - disse-me certa vez o Marcelo Leite (que não é o jornalista de ciência, mas um dos amigos mais inteligentes que já tive). Éramos solteiros e queríamos nos dar bem, como todo solteiro, mas um pouco por ser do contra, um pouco por ser sovina, nada me convencia a instalar um CD player no carro. "Se você cria um clima, as coisas ficam mais fáceis". - garantia ele. Como também estava sozinho não tinha lá muito crédito, mas cientistas franceses acabam de comprovar que tinha razão (não disse que ele era inteligente?).

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Cento e oitenta e três estudantes, mulheres entre 18 e 20 anos, foram convidadas para testar um biscoito orgânico e compará-lo com o regular. Mas na verdade a condição real de teste era outra: a voluntária esperava três minutos numa sala, até que uma auxiliar a levasse ao entrevistador; na espera havia uma música de fundo que podia ser uma famosa canção romântica francesa - Je l'aime à mourir - ou uma música neutra. O entrevistador fora um rapaz escolhido como o que tinha a aparência mais mediana dentre doze voluntários, de acordo com um ranking feito por dezoito outras mulheres. Ao cabo de cinco minutos de entrevista (onde não havia mais música), após provar os dois biscoitos, a conversa era interrompida pela auxiliar, que pedia aos dois que a esperassem voltar com um questionário dali a dois a três minutos. Nesse ínterim o rapaz - que também não sabia o propósito real da pesquisa - devia dizer: "Meu nome é Antoine, como você sabe, e eu te acho muito bonita, e estava pensando se você me daria seu telefone. Eu te telefono depois e a gente poderia beber alguma coisa semana que vem". O procedimento era padronizado, e deveria ser iniciado e finalizado com um sorriso.

Embora logo após a experiência nenhuma das moças lembrasse qualquer coisa sobre a música de fundo na sala de espera, a diferença entre os dois grupos foi notável: mais da metade das mulheres que aguardaram com um fundo de música romântica deu o telefone (52,2%), contra apenas pouco mais de um quarto delas quando influenciada por música neutra (27,9%).

Opinião por Daniel Martins de Barros

Professor colaborador do Dep. de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. Autor do livro 'Rir é Preciso'

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