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Psiquiatria e sociedade

Opinião|Pobres adúlteros burrinhos (QI, sexo e dinheiro)

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[tweetmeme] Inteligência: sinônimo de riqueza e fidelidade? Como havia prometido, volto ao tópico: duas pesquisas recentes mostram resultados interessantes advindo de um maior QI relacionados a temas que costumam dar muita audiência - dinheiro e sexo.

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Como não podia deixar de ser, o trabalho sobre dinheiro foi feito por economistas (1), correlacionando o QI com os ganhos médios anuais de 12.500 pessoas ao longo de quase trinta anos. Constatou-se que os inteligentes ganhavam pouco além de cem dólares por mês a mais do que os menos dotados no início da carreira, chegando a superá-los, contudo, em mais de três mil dólares por mês após 28 anos de trabalho. Segundo os cálculos isso significava ter ganho meio milhão de dólares a mais por volta da meia idade. Isso ocorre não apenas porque eles adquiriram mais conhecimentos e habilidades, mas também por saber usar melhor seus talentos e se vender bem dentro de suas carreiras.

Vamos ao sexo. Num outro estudo (2) um psicólogo evolucionista testou a hipótese de que assumir comportamentos "novos", ou seja, não programados geneticamente, demandaria esforço cerebral. Nesse modelo, a fidelidade masculina exigiria inteligência, pois evolutivamente os machos em geral não são direcionados para a monogamia. Entrevistando mais de cinco mil adultos, a hipótese foi comprovada, encontrando-se relação direta entre o QI e fidelidade, indicada pelo grau de concordância com a afirmação de que a monogamia é um elemento fundamental para um casamento ou relacionamento bem sucedidos.

O fato de a inteligência ser um conceito fluido, difícil de definir e mais ainda de relacionar com variáveis diversas, não impede que algumas estimativas como o QI, ainda que criticáveis, pareçam mesmo ter correlações comportamentais. Independentemente do que signifique ser inteligente, provavelmente isso está relacionado de alguma forma a flexibilidade mental, criatividade e improvisação, além manipulação de conceitos abstratos. Antecipar resultados, planejar no longo prazo e adiar gratificações são alguns elementos chave, e sem dúvida conferem vantagens competitivas na política profissional e na disputa por parceiros.

Com certeza o sucesso (reprodutivo, financeiro ou o que for) não é exclusividade dos inteligentes, mas os dados mostram que possivelmente os menos espertos têm que ralar mais para chegar lá.

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Opinião por Daniel Martins de Barros

Professor colaborador do Dep. de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. Autor do livro 'Rir é Preciso'

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