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Psiquiatria e sociedade

Opinião|O estigma bipolar

O transtorno bipolar hoje em dia é muito conhecido. Para bem e para mal.

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 Foto: Estadão

Dia 30 de março é o Dia Mundial do Transtorno Bipolar. Trata-se de uma data importante, pois mais do que nunca é fundamental aumentar a consciência das pessoas sobre o problema. Embora hoje em dia muita gente já tenha ouvido falar da doença, essa popularização súbita, como tudo na vida, tem dois lados.

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Existe um aspecto positivo, que é o do conhecimento. Quanto mais se fala em determinada doença, mais atentas as pessoas ficam, aumentando a chance de procurarem ajuda. O desconhecimento sempre retarda o diagnóstico e tratamento adequados. No caso do transtorno bipolar, para se ter uma ideia, estima-se que nos Estados Unidos os pacientes demorem cerca de dez anos para descobrir a doença depois que ela dá os primeiros sinais.

O problema é que quando se começa a falar demais num assunto nem sempre as informações mantêm a qualidade. É o que acontece hoje em dia com o termo bipolar - de uma condição médica séria ele passou a designar, na linguagem cotidiana, coisas que nada têm a ver com a doença. Instável, volúvel, traiçoeiro, infantil, encrenqueiro - muitas características negativas são logo taxadas de bipolaridade. Esse é o lado negativo. E é bastante negativo.

Essa apropriação indevida de um termo médico para designar comportamentos reprováveis faz com que os pacientes com o transtorno bipolar estejam entre os que mais apresentam estigma internalizado. Funciona assim: de tanto usar indevidamente o termo bipolar para se referir a defeitos, as pessoas passam a acreditar que os pacientes realmente têm tais defeitos, estigmatizando-os. Depois disso, de tanto perceberem esse estigma, os próprios pacientes passam a acreditar nele, piorando sua autoestima, minando sua esperança, atrapalhando o tratamento.

Então não é suficiente que as pessoas saibam que isso existe. É importante que saibam que é uma doença, não uma ofensa. Que é séria, não é piada. E mais do que tudo, que existe tratamento, e que quando as pessoas recebem o diagnóstico correto podem recuperar plenamente sua qualidade de vida. Não é o que todo mundo quer?

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(O Instituto de Psiquiatria do HC-USP promove um evento sobre o tema, confira aqui).

 

Opinião por Daniel Martins de Barros

Professor colaborador do Dep. de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. Autor do livro 'Rir é Preciso'

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