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Psiquiatria e sociedade

Opinião|O efeito Copa e a neurociência do futebol

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[tweetmeme] Acho que estou influenciado pelo slogan de uma emissora de TV, que diz que quando é tempo de Copa do Mundo, nada mais importa. Não chego a tanto, mas descobri recentemente mais dois estudos interessantes sobre a ciência da cobrança de pênaltis, que bem poderiam ajudar nossos jogadores caso situações como a final de 1994 se repitam.

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Em sua tese de doutorado, o pesquisador Nelson Toshiyiki Miyamoto, da USP, descobriu que, ao contrário do que se imagina, a torcida pode mais atrapalhar do que ajudar. Ele estudou a resposta motora de voluntários numa espécie de videogame que simulava a cobrança de pênaltis - o sujeito deveria inclinar uma alavanca para esquerda, direita ou deixá-la parada, tentando fazer com que a bola desviasse do goleiro, marcando o gol virtual. Em condições de laboratório, o aproveitamento dos voluntários foi de praticamente 100%. Depois disso, eles tinham que repetir a tarefa, mas sob o olhar (e gritos) de outros 70 alunos, simulando a torcida. O desempenho caiu para 80%, próximo da média mundial de conversão de penalidades em gols. Miyamoto sugere que o estresse adicional pela presença da torcida piora a perícia motora, e que talvez os jogadores devessem treinar mais a cobrança de pênaltis. Imagino se colocar um fone de ouvido com gritos da torcida não ajudaria também a acostumar com a pressão.

Outra pesquisa desfavorável aos jogadores mostra que eles sem saber dão pistas de onde vão chutar a bola (I). Filmando com 14 câmeras jogadores batendo na bola, os cientistas criaram vídeos que reproduzem o ponto de vista do goleiro na hora do pênalti. Analisando as imagens, descobriram uma série de dicas sobre a direção a ser tomada pela bola, sendo as principais o ângulo do quadril e a posição do pé de apoio. Segundo eles, no entanto, as informações podem não ser úteis para os goleiros, na verdade, pois dado o tempo extremamente curto entre o chute e a entrada (ou não) da bola, o arqueiro tem que pular muito rapidamente, sem tempo hábil para interpretar as informações e decidir para qual lado ir.

Aparantemnte as ciências cognitivas têm estudado o futebol há algum tempo, e o efeito da Copa é só dar mais publicidade a elas, não estimular que mais pesquisas sejam feitas. Se esse efeito ocorrer também com outros eventos relevantes para o país, em poucos meses devem vir à luz novos estudos sobre corrupção.

Opinião por Daniel Martins de Barros

Professor colaborador do Dep. de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. Autor do livro 'Rir é Preciso'

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