EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Psiquiatria e sociedade

Opinião|Faltaria um anti-herói no BBB 22?

Sem emoção não tem atenção

PUBLICIDADE

Foto do author Daniel Martins de Barros
Atualização:

BBB22/divulgação Foto: Estadão

Por que a gente gosta de ver um conflito? - foi uma das perguntas que mais me fizeram desde que estreou o Big Brother Brasil 2022. O público andava reclamando nas redes sociais de que estava faltando briga, estava ficando chato acompanhar o clima de pacificação que reinava entre os participantes.

PUBLICIDADE

Na verdade não são exatamente as brigas que nos atraem, são as emoções. Esse conjunto de reações físicas, mentais e comportamentais já vem pré-programadas em nossos cérebros para ser acionadas em situações importantes para nossa sobrevivência, para bem ou para mal. Emoções positivas nos fazem querer repetir aquela situação - prazer físico, satisfação, acolhimento, segurança, passamos a vida atrás dessas coisas porque elas são recompensadoras. Emoções negativas sinalizam o que devemos evitar: ameaças, riscos, insegurança, carências, sendo então desagradáveis.

Na ficção ambas têm apelo: as positivas são agradáveis de compartilhar, enquanto as negativas são vivenciadas num ambiente seguro - como ocorre nos filmes de terror e suspense ou parques de diversão - e trazem um inesperado e agradável alívio uma vez resolvidas.

Situações corriqueiras não despertam emoções - por isso vamos levando os dias em banho-maria, meio que no automático. Para fugir do tédio que seria essa constância nós inventamos passeios de fim-de-semana, jantares especiais, comemorações, esportes radicais, livros, filmes; mas precisamos de estabilidade, livres de altos e baixos, para dar conta do trabalho, família, obrigações. As emoções na vida real são apenas polvilhadas aqui e ali para a rotina funcionar.

Para um programa de TV essa fórmula é péssima. Obras que visem nos entreter precisam captar constantemente nossa atenção, despertando o interesse de maneira contínua e não apenas eventual, como na vida. Caso contrário os episódios se tornariam modorrentos, arrastados entre uma alta emocional e outra, perdendo audiência nos longos platôs entre esses picos.

Publicidade

Imagino que um dos problemas atuais seja o tribunal da internet e a cultura do cancelamento, que fazem os brothers e sisters terem medo de provocar emoções negativas demais e acabarem prejudicados em sua vida fora da casa. Ficam todos tentando ser os mocinhos, portanto, não sobrando ninguém para vilão. O dilema é que sem vilão, não há mocinho. E sem bem versus mal, o público reclama de não ter por quem torcer.

A solução pode ser uma figura na qual a ficção tem investido pesado atualmente: os anti-heróis. São aqueles personagens que nos cativam por serem intensos, carismáticos, ao mesmo tempo egoístas e interesseiros. Não são vilões, mas suas ações, mesmo as boas, revelam tanto suas virtudes, como seus (vários) defeitos.

Se eu estiver certo o vencedor dessa edição será alguém com esse perfil. Façam suas apostas.

Opinião por Daniel Martins de Barros

Professor colaborador do Dep. de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. Autor do livro 'Rir é Preciso'

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.