PUBLICIDADE

EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Psiquiatria e sociedade

Opinião|Deprimido na cadeia

Foto do author Daniel Martins de Barros
Atualização:

[tweetmeme] O governador cassado do Distrito Federal, José Roberto Arruda, reuniu policiais e médicos sem querer: ambos o estão investigando.

PUBLICIDADE

Mantendo-me afastado das questões de polícia que cerca o caso, valem alguns comentários sobre seu estado de saúde. Examinado por conta de edema em membro inferior (vulgo pé inchado), foi descoberta uma arritmia cardíaca, agora também sendo averiguada. Segundo seu médico, no entanto, o que chama a atenção é "o profundo abalo psicológico".

O encarceramento é, de fato, associado a quadros depressivos. Os dados internacionais mostram que mais da metade das pessoas aprisionadas de alguma forma apresentam, ao menos um transtorno mental (entre 60 e 80%, dependendo da fonte). E um problema adicional é que alguns diagnósticos bastante comuns nesses casos, como a depressão, no mais das vezes não são diagnosticados (1). Provavelmente porque uma pessoa gritando e vendo coisas incomode mais do que outra, recolhida em seu canto e evitando contato.

Um fator preocupante, do ponto de vista clínico, no caso de Arruda, é que a depressão é um fator de risco para complicações cardiovasculares (2). Se ele está de fato com trombose e arritmia, os riscos são ainda maiores.

Nada disso, é claro, confere privilégios ao ex-governador; se as pessoas com diagnósticos psiquiátricos tivessem o direito todas de ir para casa, a população carcerária mundial cairia no mínimo pela metade. Se está doente e for condenado, que se trate na prisão. Mas prover o tratamento adequado é dever do Estado e direito dele, independentemente de sua situação jurídica.

Publicidade

Opinião por Daniel Martins de Barros

Professor colaborador do Dep. de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. Autor do livro 'Rir é Preciso'

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.