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Psiquiatria e sociedade

Opinião|Chile e Haiti - a morte não cai do azul

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Atualização:

[tweetmeme] Em post anterior discuti um pouco sobre as catástrofes naturais e as responsabilidades envolvidas, mostrando que quem tem mais preconceito tende a colocar a culpa nas vítimas, enquanto quem tem menos tende a considerar tudo uma tragédia.

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Eis que o terremoto no Chile vem a reforçar uma outra leitura, divulgada no Brasil em artigo de João Pereira Coutinho na Folha: a culpa maior é da pobreza. Estudo analisando o resultados de catástrofes ao redor do globo por mais de 20 anos (1) mostra que o PIB do país atingido está inversamente relacionado ao número de mortos - quanto mais rico, menos baixas. A pobreza do país reflete uma (e se reflete na) estrutura de organização social precária, instituições frágeis e consequente capacidade de reação menor.

Os terremotos do Haiti e do Chile diferem bem mais do que cinquenta dias que os separam, as disparidades são bem maiores: o PIB per capita do primeiro é US$1.900,00, contra US$ 14.000,00 do segundo; o terremoto no Haiti atingiu 7 pontos na escala Richter e no Chile chegou a 8.8 (como a escala é exponencial, significa um abalo mais de 30 vezes mais intenso); mas a diferença mais gritante é que, enquanto no Chile os mortos contam-se às centas, no Haiti fala-se em três centenas de milhar.

Talvez a responsabilidade não seja nem de Deus nem das vítimas, mas de todos nós, daquilo que construímos como sociedade. Afinal, o salmista já tinha avisado que "Os céus são os céus do Senhor, mas a terra, deu-a ele aos filhos dos homens" (Salmo 115:16).

Opinião por Daniel Martins de Barros

Professor colaborador do Dep. de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. Autor do livro 'Rir é Preciso'

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