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Psiquiatria e sociedade

Opinião|Apagou as luzes? Cheque a carteira!

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[tweetmeme] Sábado, dia 27 de março, aconteceu a hora do planeta. Se você não percebeu, das 20h30 às 21h30 pessoas, bairros e cidades ao redor do mundo todo apagaram as luzes, num gesto simbólico para lembrar que o consumo de energia é prejudicial ao nosso planeta: monumentos, prédios oficiais, tudo para chamar a atenção à causa. Eu acredito na força dos símbolos, por isso, apesar de ser inócuo apagar as luzes por uma hora, não acho a iniciativa de todo ruim: serve para nos lembrar da questão ambiental e para mostrar que existem atitudes em prol do meio ambiente que estão ao nosso alcance. Se não dermos o passo na direção dessas atitudes, no entanto, a hora do planeta não serve de nada.

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E por falar em luzes e comportamento, um artigo que reúne as duas coisas sem ter nada a ver com ecologia chama-se "Boas lâmpadas são a melhor polícia: a escuridão aumenta a desonestidade e o comportamento egoísta" (I). Exemplos como os saques pós-terremoto no Chile ou baderna nas ruas em dias de blecaute estão relacionados não apenas à desorganização que surge na sociedade, mas com a própria escuridão: nesse estudo, os pesquisadores bolaram um teste supostamente anônimo para estudantes, que, após completarem as respostas, deviam preencher uma folha estimando quantas questões haviam acertado para ganhar uma soma de dinheiro proporcional ao tanto de respostas corretas. Um sistema oculto permitia aos cientistas saber, depois, se de fato os alunos tinham acertado tanto quanto falaram na hora da recompensa. Havia um grupo numa sala a meia luz e outro numa sala com iluminação intensa; nem é preciso dizer em qual dos grupos houve mais alunos exagerando o número de respostas certas para ganhar mais dinheiro: 60,5% dos estudantes que fizeram o teste no escurinho contra menos de um quarto dos que o fizeram na sala iluminada.

Provavelmente a sensação de estar encoberto aos olhos dos outros - mesmo que isso não seja verdade - aumenta também a sensação que não seremos pegos ou punidos. Já citei em outra ocasião, mas nunca é demais lembrar o Homem invisível, do escritor H.G. Wells: depois de se tornar invisível, seu comportamento se torna agressivo e totalmente egoísta. Dá o que pensar: até onde somos capazes de chegar sem os freios sociais?

Opinião por Daniel Martins de Barros

Professor colaborador do Dep. de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. Autor do livro 'Rir é Preciso'

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