Psiquiatria e sociedade

Opinião|Amigo secreto - o que dar e o que não dar de presente


Faça o que fizer, fuja dos vale presentes.

Por Daniel Martins de Barros
 Foto: Estadão

Com o fim do ano chegando percebi que nunca tratei de um tema bastante relevante nessa época: os presentes. Sim, porque pode não existir uma forma correta de presentear alguém, mas existe uma forma errada: o vale-presente.

Do começo: esse ritual cujo ápice ocorre com a proximidade do Natal tem um significado muito claro - demonstrar afeto num relacionamento. Dar alguma coisa é dizer que a gente pensou na pessoa, lembrou dela, se importou. Por isso também chamamos de dar uma lembrança. O presente é uma forma de deixá-la alegre como ela nos faz alegre. Fica claro então que não se trata apenas de dar algo que ela precisa. Se fosse assim, bastava chegar com uma sacola de mercado com detergente, sabão em pó, pano de chão, amaciante. Todo mundo precisa disso, que belo presente seria, não?

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A dificuldade é que para deixar a pessoa feliz precisamos conhecê-la. Acertar na escolha não deveria ser uma loteria, mas o resultado natural de um envolvimento pessoal ao longo do ano, que nos permitiu saber do que os colegas gostam, quais seus hobbies, preferências musicais. A aflição na hora de comprar algo para o amigo secreto da firma só mostra o quanto nossos relacionamentos são superficiais.

Uma saída é dar algo que seja significativo para nós. Compartilhar o que tenha sido marcante em nossas vidas é outra  forma de dar uma lembrança, já que a pessoa irá se lembrar de nós quando interagir com aquele objeto. O único cuidado é que nesses casos ela tem que gostar da gente - caso contrário seria mais uma tortura do que uma recordação.

Por isso o vale-presente é tão ruim. A ideia até parece boa: ganhamos uma soma que somos obrigados a gastar com entretenimento do jeito que quisermos. Mas por si só ele não supre uma necessidade, não demonstra qualquer intimidade, não traz lembrança, nada. Esse esvaziamento de significado tem uma consequência ruim: cerca de um terço das pessoas jamais usa o vale. Ou seja, dinheiro foi rasgado nessa transação, porque quem deu, gastou, mas quem recebeu não ganhou nada. (Só o comércio adora - ganham cinquenta, cem, duzentos reais e não entregam nada em troca. Baita negócio).

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No fim das contas, se ainda estiver com dificuldade para escolher, opte por presentear com experiências. Pesquisas mostram elas promovem mais afetos, estimulam mais conexões e são melhores para os relacionamentos do presentes materiais - o que, se lembrarmos do começo, é a razão de existir desses rituais.

 

Cindy Chan, Cassie Mogilner, Experiential Gifts Foster Stronger Social Relationships Than Material Gifts, Journal of Consumer Research, Volume 43, Issue 6, April 2017, Pages 913-931.

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***

Ludicamente

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Já faz tempo que venho recomendando jogos de tabuleiro modernos por aqui. Já tivemos colunas gerais, para crianças, para idosos e agora para o Natal. Porque o jogo tem tudo para reunir vários aspectos dos bons presentes, já que são ao mesmo tempo objetos - frequentemente muito bonitos - e experiências, que ainda podem se tornar lembranças perenes.

Por faixa de preço, há sugestões que vão desde amigos secretos até presentões:

R$30,00 - R$ 50,00:

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 Foto: Estadão

O jogo de cartas Bandido (Papergames) é um lançamento no qual coloca-se um prisioneiro no centro da mesa e ele irá tentar escapar cavando túneis. Eles estão representados nas cartas dos jogadores, que têm que impedir o bandido de escapar colocando as cartas de forma a levá-lo para becos sem saída. É um jogo leve e rápido que proporciona uma experiência de trabalho em equipe.

R$60,00 - R$ 80,00:

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 Foto: Estadão

Os jogos da linha Exit (Devir) são verdadeiras doses de adrenalina em caixinha. Inspirados nas salas de Escape, aquelas de onde é preciso escapar encontrando pistas e decifrando enigmas, os jogadores (de 2 a 6 pessoas - em princípio, pois se estiver mais preocupado em se divertir do que escapar, é possível jogar em grupos maiores), têm de cooperar e trabalhar em equipe para conseguir salvar a pele do grupo tudo.

R$ 100,00 - R$150,00:

 Foto: Estadão

A editora Ludens Spirit faz jogos com acabamentos que os transformam e objetos de decoração. O Triminó  é inspirado no dominó clássico, mas com peças triangulares, o que aumenta a possibilidade - e complexidade - das escolhas. Em casa jogamos com nossos filhos de 6 e 8 anos, mas essa edição pode ser uma boa opção para presente em qualquer idade.

 

R$ 150,00 - R$ 200,00:

 Foto: Estadão

Apesar do tema ligado ao universo do RPG, o jogo Roll Player (Grok Games) pode ser jogado por pessoas como eu, que não têm qualquer intimidade com esse mundo de fantasia. O objetivo do jogo preparar seu personagem, dando-lhe força, habilidade, inteligência, carisma entre outros atributos, utilizando dados que são rolados a cada rodada. O desafio é alocar os dados de forma a potencializar ao máximo seu personagem ao mesmo tempo em que dificulta a vida dos adversários.

R$200,00 -  R$ 300,00:

 Foto: Estadão

Títulos mais caros tendem a agradar mais as pessoas já familiarizadas com jogos mais complexos, difíceis de de explicar e demorados para jogar. Esse não é o caso de Hadara (Devir), que apesar de acrescentar profundidade não se torna difícil para jogadores iniciantes. A partida se dá em três eras, durante as quais os participantes devem conduzir o progresso da civilização desde os primórdios até as conquistas mais sofisticadas - descobrindo que cientistas e filósofos não progridem muito sem agricultores e soldados.

R$300,00 - R$ 400,00:

 Foto: Estadão

Se o nome soar familiar não é por acaso. Em Ilha dos dinossauros (MeepleBr) os jogadores se desdobram no papel de cientistas e empreendedores, extraindo DNA de dinossauros, criando novas espécies e montando com elas um parque de diversões que lhes trará mais pontos quanto mais visitantes conseguirem atrair. Claro que mais público só virá com mais dinossauros - mas quanto mais bichos houver, maior o risco de um visitante acabar engolido, custando valiosos pontos.

mais de R$500,00:

 Foto: Estadão

Acompanhado por belas miniaturas representando marcos de avanço tecnológico, Tapestry (Grok Games) é um jogo mais complexo, com partidas que duram até duas horas. Sem dúvida um grande presente para pessoas já inseridas no hobby. Conforme avançam na exploração do planeta os jogadores também avançam em ciência, tecnologia e força militar. No entanto cada um tem uma civilização diferente, com características únicas, para as quais pode ser interessante avançar mais em determinadas trilhas do que em outras.

 Foto: Estadão

Com o fim do ano chegando percebi que nunca tratei de um tema bastante relevante nessa época: os presentes. Sim, porque pode não existir uma forma correta de presentear alguém, mas existe uma forma errada: o vale-presente.

Do começo: esse ritual cujo ápice ocorre com a proximidade do Natal tem um significado muito claro - demonstrar afeto num relacionamento. Dar alguma coisa é dizer que a gente pensou na pessoa, lembrou dela, se importou. Por isso também chamamos de dar uma lembrança. O presente é uma forma de deixá-la alegre como ela nos faz alegre. Fica claro então que não se trata apenas de dar algo que ela precisa. Se fosse assim, bastava chegar com uma sacola de mercado com detergente, sabão em pó, pano de chão, amaciante. Todo mundo precisa disso, que belo presente seria, não?

A dificuldade é que para deixar a pessoa feliz precisamos conhecê-la. Acertar na escolha não deveria ser uma loteria, mas o resultado natural de um envolvimento pessoal ao longo do ano, que nos permitiu saber do que os colegas gostam, quais seus hobbies, preferências musicais. A aflição na hora de comprar algo para o amigo secreto da firma só mostra o quanto nossos relacionamentos são superficiais.

Uma saída é dar algo que seja significativo para nós. Compartilhar o que tenha sido marcante em nossas vidas é outra  forma de dar uma lembrança, já que a pessoa irá se lembrar de nós quando interagir com aquele objeto. O único cuidado é que nesses casos ela tem que gostar da gente - caso contrário seria mais uma tortura do que uma recordação.

Por isso o vale-presente é tão ruim. A ideia até parece boa: ganhamos uma soma que somos obrigados a gastar com entretenimento do jeito que quisermos. Mas por si só ele não supre uma necessidade, não demonstra qualquer intimidade, não traz lembrança, nada. Esse esvaziamento de significado tem uma consequência ruim: cerca de um terço das pessoas jamais usa o vale. Ou seja, dinheiro foi rasgado nessa transação, porque quem deu, gastou, mas quem recebeu não ganhou nada. (Só o comércio adora - ganham cinquenta, cem, duzentos reais e não entregam nada em troca. Baita negócio).

No fim das contas, se ainda estiver com dificuldade para escolher, opte por presentear com experiências. Pesquisas mostram elas promovem mais afetos, estimulam mais conexões e são melhores para os relacionamentos do presentes materiais - o que, se lembrarmos do começo, é a razão de existir desses rituais.

 

Cindy Chan, Cassie Mogilner, Experiential Gifts Foster Stronger Social Relationships Than Material Gifts, Journal of Consumer Research, Volume 43, Issue 6, April 2017, Pages 913-931.

 

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Já faz tempo que venho recomendando jogos de tabuleiro modernos por aqui. Já tivemos colunas gerais, para crianças, para idosos e agora para o Natal. Porque o jogo tem tudo para reunir vários aspectos dos bons presentes, já que são ao mesmo tempo objetos - frequentemente muito bonitos - e experiências, que ainda podem se tornar lembranças perenes.

Por faixa de preço, há sugestões que vão desde amigos secretos até presentões:

R$30,00 - R$ 50,00:

 Foto: Estadão

O jogo de cartas Bandido (Papergames) é um lançamento no qual coloca-se um prisioneiro no centro da mesa e ele irá tentar escapar cavando túneis. Eles estão representados nas cartas dos jogadores, que têm que impedir o bandido de escapar colocando as cartas de forma a levá-lo para becos sem saída. É um jogo leve e rápido que proporciona uma experiência de trabalho em equipe.

R$60,00 - R$ 80,00:

 Foto: Estadão

Os jogos da linha Exit (Devir) são verdadeiras doses de adrenalina em caixinha. Inspirados nas salas de Escape, aquelas de onde é preciso escapar encontrando pistas e decifrando enigmas, os jogadores (de 2 a 6 pessoas - em princípio, pois se estiver mais preocupado em se divertir do que escapar, é possível jogar em grupos maiores), têm de cooperar e trabalhar em equipe para conseguir salvar a pele do grupo tudo.

R$ 100,00 - R$150,00:

 Foto: Estadão

A editora Ludens Spirit faz jogos com acabamentos que os transformam e objetos de decoração. O Triminó  é inspirado no dominó clássico, mas com peças triangulares, o que aumenta a possibilidade - e complexidade - das escolhas. Em casa jogamos com nossos filhos de 6 e 8 anos, mas essa edição pode ser uma boa opção para presente em qualquer idade.

 

R$ 150,00 - R$ 200,00:

 Foto: Estadão

Apesar do tema ligado ao universo do RPG, o jogo Roll Player (Grok Games) pode ser jogado por pessoas como eu, que não têm qualquer intimidade com esse mundo de fantasia. O objetivo do jogo preparar seu personagem, dando-lhe força, habilidade, inteligência, carisma entre outros atributos, utilizando dados que são rolados a cada rodada. O desafio é alocar os dados de forma a potencializar ao máximo seu personagem ao mesmo tempo em que dificulta a vida dos adversários.

R$200,00 -  R$ 300,00:

 Foto: Estadão

Títulos mais caros tendem a agradar mais as pessoas já familiarizadas com jogos mais complexos, difíceis de de explicar e demorados para jogar. Esse não é o caso de Hadara (Devir), que apesar de acrescentar profundidade não se torna difícil para jogadores iniciantes. A partida se dá em três eras, durante as quais os participantes devem conduzir o progresso da civilização desde os primórdios até as conquistas mais sofisticadas - descobrindo que cientistas e filósofos não progridem muito sem agricultores e soldados.

R$300,00 - R$ 400,00:

 Foto: Estadão

Se o nome soar familiar não é por acaso. Em Ilha dos dinossauros (MeepleBr) os jogadores se desdobram no papel de cientistas e empreendedores, extraindo DNA de dinossauros, criando novas espécies e montando com elas um parque de diversões que lhes trará mais pontos quanto mais visitantes conseguirem atrair. Claro que mais público só virá com mais dinossauros - mas quanto mais bichos houver, maior o risco de um visitante acabar engolido, custando valiosos pontos.

mais de R$500,00:

 Foto: Estadão

Acompanhado por belas miniaturas representando marcos de avanço tecnológico, Tapestry (Grok Games) é um jogo mais complexo, com partidas que duram até duas horas. Sem dúvida um grande presente para pessoas já inseridas no hobby. Conforme avançam na exploração do planeta os jogadores também avançam em ciência, tecnologia e força militar. No entanto cada um tem uma civilização diferente, com características únicas, para as quais pode ser interessante avançar mais em determinadas trilhas do que em outras.

 Foto: Estadão

Com o fim do ano chegando percebi que nunca tratei de um tema bastante relevante nessa época: os presentes. Sim, porque pode não existir uma forma correta de presentear alguém, mas existe uma forma errada: o vale-presente.

Do começo: esse ritual cujo ápice ocorre com a proximidade do Natal tem um significado muito claro - demonstrar afeto num relacionamento. Dar alguma coisa é dizer que a gente pensou na pessoa, lembrou dela, se importou. Por isso também chamamos de dar uma lembrança. O presente é uma forma de deixá-la alegre como ela nos faz alegre. Fica claro então que não se trata apenas de dar algo que ela precisa. Se fosse assim, bastava chegar com uma sacola de mercado com detergente, sabão em pó, pano de chão, amaciante. Todo mundo precisa disso, que belo presente seria, não?

A dificuldade é que para deixar a pessoa feliz precisamos conhecê-la. Acertar na escolha não deveria ser uma loteria, mas o resultado natural de um envolvimento pessoal ao longo do ano, que nos permitiu saber do que os colegas gostam, quais seus hobbies, preferências musicais. A aflição na hora de comprar algo para o amigo secreto da firma só mostra o quanto nossos relacionamentos são superficiais.

Uma saída é dar algo que seja significativo para nós. Compartilhar o que tenha sido marcante em nossas vidas é outra  forma de dar uma lembrança, já que a pessoa irá se lembrar de nós quando interagir com aquele objeto. O único cuidado é que nesses casos ela tem que gostar da gente - caso contrário seria mais uma tortura do que uma recordação.

Por isso o vale-presente é tão ruim. A ideia até parece boa: ganhamos uma soma que somos obrigados a gastar com entretenimento do jeito que quisermos. Mas por si só ele não supre uma necessidade, não demonstra qualquer intimidade, não traz lembrança, nada. Esse esvaziamento de significado tem uma consequência ruim: cerca de um terço das pessoas jamais usa o vale. Ou seja, dinheiro foi rasgado nessa transação, porque quem deu, gastou, mas quem recebeu não ganhou nada. (Só o comércio adora - ganham cinquenta, cem, duzentos reais e não entregam nada em troca. Baita negócio).

No fim das contas, se ainda estiver com dificuldade para escolher, opte por presentear com experiências. Pesquisas mostram elas promovem mais afetos, estimulam mais conexões e são melhores para os relacionamentos do presentes materiais - o que, se lembrarmos do começo, é a razão de existir desses rituais.

 

Cindy Chan, Cassie Mogilner, Experiential Gifts Foster Stronger Social Relationships Than Material Gifts, Journal of Consumer Research, Volume 43, Issue 6, April 2017, Pages 913-931.

 

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Ludicamente

Já faz tempo que venho recomendando jogos de tabuleiro modernos por aqui. Já tivemos colunas gerais, para crianças, para idosos e agora para o Natal. Porque o jogo tem tudo para reunir vários aspectos dos bons presentes, já que são ao mesmo tempo objetos - frequentemente muito bonitos - e experiências, que ainda podem se tornar lembranças perenes.

Por faixa de preço, há sugestões que vão desde amigos secretos até presentões:

R$30,00 - R$ 50,00:

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O jogo de cartas Bandido (Papergames) é um lançamento no qual coloca-se um prisioneiro no centro da mesa e ele irá tentar escapar cavando túneis. Eles estão representados nas cartas dos jogadores, que têm que impedir o bandido de escapar colocando as cartas de forma a levá-lo para becos sem saída. É um jogo leve e rápido que proporciona uma experiência de trabalho em equipe.

R$60,00 - R$ 80,00:

 Foto: Estadão

Os jogos da linha Exit (Devir) são verdadeiras doses de adrenalina em caixinha. Inspirados nas salas de Escape, aquelas de onde é preciso escapar encontrando pistas e decifrando enigmas, os jogadores (de 2 a 6 pessoas - em princípio, pois se estiver mais preocupado em se divertir do que escapar, é possível jogar em grupos maiores), têm de cooperar e trabalhar em equipe para conseguir salvar a pele do grupo tudo.

R$ 100,00 - R$150,00:

 Foto: Estadão

A editora Ludens Spirit faz jogos com acabamentos que os transformam e objetos de decoração. O Triminó  é inspirado no dominó clássico, mas com peças triangulares, o que aumenta a possibilidade - e complexidade - das escolhas. Em casa jogamos com nossos filhos de 6 e 8 anos, mas essa edição pode ser uma boa opção para presente em qualquer idade.

 

R$ 150,00 - R$ 200,00:

 Foto: Estadão

Apesar do tema ligado ao universo do RPG, o jogo Roll Player (Grok Games) pode ser jogado por pessoas como eu, que não têm qualquer intimidade com esse mundo de fantasia. O objetivo do jogo preparar seu personagem, dando-lhe força, habilidade, inteligência, carisma entre outros atributos, utilizando dados que são rolados a cada rodada. O desafio é alocar os dados de forma a potencializar ao máximo seu personagem ao mesmo tempo em que dificulta a vida dos adversários.

R$200,00 -  R$ 300,00:

 Foto: Estadão

Títulos mais caros tendem a agradar mais as pessoas já familiarizadas com jogos mais complexos, difíceis de de explicar e demorados para jogar. Esse não é o caso de Hadara (Devir), que apesar de acrescentar profundidade não se torna difícil para jogadores iniciantes. A partida se dá em três eras, durante as quais os participantes devem conduzir o progresso da civilização desde os primórdios até as conquistas mais sofisticadas - descobrindo que cientistas e filósofos não progridem muito sem agricultores e soldados.

R$300,00 - R$ 400,00:

 Foto: Estadão

Se o nome soar familiar não é por acaso. Em Ilha dos dinossauros (MeepleBr) os jogadores se desdobram no papel de cientistas e empreendedores, extraindo DNA de dinossauros, criando novas espécies e montando com elas um parque de diversões que lhes trará mais pontos quanto mais visitantes conseguirem atrair. Claro que mais público só virá com mais dinossauros - mas quanto mais bichos houver, maior o risco de um visitante acabar engolido, custando valiosos pontos.

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 Foto: Estadão

Acompanhado por belas miniaturas representando marcos de avanço tecnológico, Tapestry (Grok Games) é um jogo mais complexo, com partidas que duram até duas horas. Sem dúvida um grande presente para pessoas já inseridas no hobby. Conforme avançam na exploração do planeta os jogadores também avançam em ciência, tecnologia e força militar. No entanto cada um tem uma civilização diferente, com características únicas, para as quais pode ser interessante avançar mais em determinadas trilhas do que em outras.

 Foto: Estadão

Com o fim do ano chegando percebi que nunca tratei de um tema bastante relevante nessa época: os presentes. Sim, porque pode não existir uma forma correta de presentear alguém, mas existe uma forma errada: o vale-presente.

Do começo: esse ritual cujo ápice ocorre com a proximidade do Natal tem um significado muito claro - demonstrar afeto num relacionamento. Dar alguma coisa é dizer que a gente pensou na pessoa, lembrou dela, se importou. Por isso também chamamos de dar uma lembrança. O presente é uma forma de deixá-la alegre como ela nos faz alegre. Fica claro então que não se trata apenas de dar algo que ela precisa. Se fosse assim, bastava chegar com uma sacola de mercado com detergente, sabão em pó, pano de chão, amaciante. Todo mundo precisa disso, que belo presente seria, não?

A dificuldade é que para deixar a pessoa feliz precisamos conhecê-la. Acertar na escolha não deveria ser uma loteria, mas o resultado natural de um envolvimento pessoal ao longo do ano, que nos permitiu saber do que os colegas gostam, quais seus hobbies, preferências musicais. A aflição na hora de comprar algo para o amigo secreto da firma só mostra o quanto nossos relacionamentos são superficiais.

Uma saída é dar algo que seja significativo para nós. Compartilhar o que tenha sido marcante em nossas vidas é outra  forma de dar uma lembrança, já que a pessoa irá se lembrar de nós quando interagir com aquele objeto. O único cuidado é que nesses casos ela tem que gostar da gente - caso contrário seria mais uma tortura do que uma recordação.

Por isso o vale-presente é tão ruim. A ideia até parece boa: ganhamos uma soma que somos obrigados a gastar com entretenimento do jeito que quisermos. Mas por si só ele não supre uma necessidade, não demonstra qualquer intimidade, não traz lembrança, nada. Esse esvaziamento de significado tem uma consequência ruim: cerca de um terço das pessoas jamais usa o vale. Ou seja, dinheiro foi rasgado nessa transação, porque quem deu, gastou, mas quem recebeu não ganhou nada. (Só o comércio adora - ganham cinquenta, cem, duzentos reais e não entregam nada em troca. Baita negócio).

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Cindy Chan, Cassie Mogilner, Experiential Gifts Foster Stronger Social Relationships Than Material Gifts, Journal of Consumer Research, Volume 43, Issue 6, April 2017, Pages 913-931.

 

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R$60,00 - R$ 80,00:

 Foto: Estadão

Os jogos da linha Exit (Devir) são verdadeiras doses de adrenalina em caixinha. Inspirados nas salas de Escape, aquelas de onde é preciso escapar encontrando pistas e decifrando enigmas, os jogadores (de 2 a 6 pessoas - em princípio, pois se estiver mais preocupado em se divertir do que escapar, é possível jogar em grupos maiores), têm de cooperar e trabalhar em equipe para conseguir salvar a pele do grupo tudo.

R$ 100,00 - R$150,00:

 Foto: Estadão

A editora Ludens Spirit faz jogos com acabamentos que os transformam e objetos de decoração. O Triminó  é inspirado no dominó clássico, mas com peças triangulares, o que aumenta a possibilidade - e complexidade - das escolhas. Em casa jogamos com nossos filhos de 6 e 8 anos, mas essa edição pode ser uma boa opção para presente em qualquer idade.

 

R$ 150,00 - R$ 200,00:

 Foto: Estadão

Apesar do tema ligado ao universo do RPG, o jogo Roll Player (Grok Games) pode ser jogado por pessoas como eu, que não têm qualquer intimidade com esse mundo de fantasia. O objetivo do jogo preparar seu personagem, dando-lhe força, habilidade, inteligência, carisma entre outros atributos, utilizando dados que são rolados a cada rodada. O desafio é alocar os dados de forma a potencializar ao máximo seu personagem ao mesmo tempo em que dificulta a vida dos adversários.

R$200,00 -  R$ 300,00:

 Foto: Estadão

Títulos mais caros tendem a agradar mais as pessoas já familiarizadas com jogos mais complexos, difíceis de de explicar e demorados para jogar. Esse não é o caso de Hadara (Devir), que apesar de acrescentar profundidade não se torna difícil para jogadores iniciantes. A partida se dá em três eras, durante as quais os participantes devem conduzir o progresso da civilização desde os primórdios até as conquistas mais sofisticadas - descobrindo que cientistas e filósofos não progridem muito sem agricultores e soldados.

R$300,00 - R$ 400,00:

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Se o nome soar familiar não é por acaso. Em Ilha dos dinossauros (MeepleBr) os jogadores se desdobram no papel de cientistas e empreendedores, extraindo DNA de dinossauros, criando novas espécies e montando com elas um parque de diversões que lhes trará mais pontos quanto mais visitantes conseguirem atrair. Claro que mais público só virá com mais dinossauros - mas quanto mais bichos houver, maior o risco de um visitante acabar engolido, custando valiosos pontos.

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Acompanhado por belas miniaturas representando marcos de avanço tecnológico, Tapestry (Grok Games) é um jogo mais complexo, com partidas que duram até duas horas. Sem dúvida um grande presente para pessoas já inseridas no hobby. Conforme avançam na exploração do planeta os jogadores também avançam em ciência, tecnologia e força militar. No entanto cada um tem uma civilização diferente, com características únicas, para as quais pode ser interessante avançar mais em determinadas trilhas do que em outras.

Opinião por Daniel Martins de Barros

Professor colaborador do Dep. de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. Autor do livro 'Rir é Preciso'

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