PUBLICIDADE

EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Psiquiatria e sociedade

Opinião|A pessoa do médico e do paciente

Foto do author Daniel Martins de Barros
Atualização:

[tweetmeme] Acabo de ler o livro Todo paciente tem uma história para contar, da Dra. Lisa Sanders (Editora Jorge Zahar, 2010) e, embora já tenha recomendado livros por aqui, coloco este na categoria de essencial.

PUBLICIDADE

Só para contextualizar, Dra. Sanders era repórter cobrindo a área da saúde antes de decidir, já adulta, estudar medicina. Especializou-se em clínica geral, e, com essa formação dupla médica/repórter, iniciou uma coluna na The New York Times Magazine chamada Diagnosis, na qual narrava, com prosa envolvente, alguns casos misteriosos, com históricos confusos que faziam da busca pelo diagnóstico um trabalho de detetive. Adivinhou quem a relacionou com o famigerado Dr. House - seus textos inspiraram o seriado, do qual ela se tornou consultora.

Envolvida com essas histórias de casos complexos, cuja solução desafiava os médicos, Sanders se interessou pelo processo diagnóstico, desde o contato inicial entre médico e paciente - momento revestido de grandes significados e emoções contraditórias - até a última palavra - literalmente - dos patologistas. Nesse caminho, resolveu investigar como se obtem a história clínica de um doente; como se realiza o seu exame (e como ele deveria ser realizado, duas realidades muito distintas); de que maneira os exames complementares, fetiches da medicina moderna tanto para médicos como para pacientes, ajudam e atrapalham o diagnóstico; o paradoxo de, apesar de confiarmos tanto na tecnologia, os médicos termos tanta resistência em usar as novas ferramentas da tecnologia da informação; até chegar ao ponto culminante da relação médico-paciente, quando um diagnóstico tem que ser formulado em termos técnicos na cabeça do médico e transmitido de forma compreensível para o paciente leigo.

A leitura é envolvente e acessível ao público geral sem ceder ao coloquialismo ou recorrer a simplificações que comprometam a precisão das informações; talvez por isso esteja colecionando resenhas positivas por onde passa.

Se é verdade que todo paciente tem uma história para contar, cada médico ouve dezenas delas dia após dia; tristes ou felizes, com certeza várias muitos boas. Que a autora as conte tão bem, só nos ajuda a afinar os nossa capacidade para ouvir quem precisa ser ouvido.

Publicidade

Opinião por Daniel Martins de Barros

Professor colaborador do Dep. de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. Autor do livro 'Rir é Preciso'

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.