PUBLICIDADE

EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Psiquiatria e sociedade

Opinião|A linguagem do jazz

Foto do author Daniel Martins de Barros
Atualização:

Perguntaram para o Louis Armstrong, certa vez, o que era o jazz. "Se você tem que perguntar, você não irá compreender", teria respondido o trompetista.

PUBLICIDADE

Não contentes com a resposta de Armostrong, alguns neurocientistas organizaram uma jam session bem especial, dentro de um laboratório de neuroimagem. Enquanto um músico ficava dentro do aparelho de ressonância magnética com um teclado, outro ficava do lado de fora, e ambos entravam num jogo de improviso conhecido como "trading fours", praticamente um diálogo musical, em que um "fala", outros "responde", e assim por diante.

As imagens mostraram que as áreas da linguagem, normalmente associadas à fala e sua compreensão, foram intensamente ativadas nos músicos. Isso levou os cientistas a comprovar que o improviso é realmente uma forma de comunicação entre os jazzistas, que constroem seus solos como nós - reles mortais - construímos nossas frases. Diferentemente de quando falamos, no entanto, a área semântica (ou seja, ligada aos significados) do cérebro dos músicos ficava menos ativada, como se a música fosse pura gramática.

Tamanho exercício cerebral pode ser uma das explicações possíveis de porque aprender a tocar um instrumento reduz o risco do desenvolvimento de demências. Recentemente um grupo de idosos músicos foi comparado a não músicos com relação à manutenção de suas capacidades cognitivas. Sendo tudo o mais igual, inclusive saúde geral e atividade física, os músicos apresentam melhor fluência, memorização e recordação em tarefas verbais, capacidades visuo-espaciais e destreza motora. Quanto mais cedo tinha sido o aprendizado, maiores os benefícios, mas esses também aconteciam em quem aprendia o instrumento mais tarde.

Apesar de ser fã incondicional de jazz, portanto, concordo com Duke Ellington, um dos maiores expoentes do gênero, quando disse que "Existem apenas dois tipos de música. Música boa e o outro tipo".

Publicidade

Opinião por Daniel Martins de Barros

Professor colaborador do Dep. de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. Autor do livro 'Rir é Preciso'

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.