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Psiquiatria e sociedade

Opinião|A insanidade dos presidentes

Muito normal nenhum presidente é. Mas suas ações (mesmo as vis) raramente demonstram insanidade.

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Atualização:

Presidente Jair Bolsonaro usa máscara durante entrevista coletiva, no salão Oeste do Planalto Foto: Dida Sampaio/Estadão

Já citei em outro momento uma piada do Seinfeld na qual ele diz que seria desnecessário fazer uma avaliação de sanidade mental em um presidente. Qualquer presidente. Quem voluntariamente quer assumir um trabalho desses, com o destino de milhões de pessoas nas mãos, decidir sobre guerras etc. não pode ser muito bom da cabeça.

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É um ótimo ponto de partida para a presente reflexão. Totalmente normal, na média, nenhum presidente será. O mandatário há que ter alguns traços particulares, sejam narcísicos, autoritários, grandiosos, para querer um cargo desses. O que não significa que para ser presidente seja preciso ter uma doença mental de fato. Traços de personalidade fora da média não são considerados doença há pelo menos um século. Às vezes são até dons. Só quando esses traços trazem sofrimento é possível levantar a hipótese de um transtorno de personalidade, problemas caracterizados por padrões rígidos na forma de ser e se relacionar consigo e com os outros que trazem prejuízo para a integração da pessoa. Não se trata de um comportamento isolado nem de atitudes que só se manifestem em determinados contextos, mas padrões contínuos, de longo prazo, exibidos desde cedo pelas pessoas e que estão presentes em praticamente todos suas interações. Ou seja, por uma ou alguma atitudes não se pode afirmar que alguém tenha tal transtorno.

Agora a pergunta que tenho visto ser posta com frequência crescente é se o presidente Bolsonaro tem algum transtorno de personalidade. Suas atitudes denotariam tal padrão disfuncional, denunciando a presença dessa anormalidade psíquica. O que poderia eventualmente ser motivo para afastá-lo do cargo.

Não vou arriscar um palpite se ele tem ou não um transtorno de personalidade, nem sobre qual seria. Mas já aviso que não adianta nutrir esperanças de afastar alguém de suas funções por causa disso. A presença de um diagnóstico psiquiátrico por si só não tem implicação legal a não ser quando interfere com o entendimento ou com o autocontrole, impedindo o paciente de agir de forma lúcida.

Mas tenha ou não algum problema psiquiátrico, parece-me que Bolsonaro sabe muito bem o que está fazendo. Nós podemos não concordar com suas ações. Podemos até considerá-las vis. Mas o que para alguns parece tresloucado é justamente o que esperavam muitos dos que nele votaram.

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E que melhor sinal de que um político está lúcido do que agir para agradar seus eleitores?

Opinião por Daniel Martins de Barros

Professor colaborador do Dep. de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. Autor do livro 'Rir é Preciso'

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