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Psiquiatria e sociedade

Opinião|A beleza que põe mesa

Jogos modernos para tempos modernos.

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Foto do author Daniel Martins de Barros
Atualização:
 Foto: Estadão

Esses dias fiquei decepcionado com uma matéria que se propunha a resgatar os jogos de tabuleiro. Não que a notícia não seja boa - ela é ótima. O problema eram os títulos recomendados pelo repórter. Cara-a-cara, War, Perfil, Sudoku. Quem ainda tem paciência para eles? Basta tentar convidar amigos para jogar apresentando esses títulos para ver as reações de tédio.

O pior (pior para a matéria, para o público é excelente) é que  - como já tratamos antes nesse espaço - estamos no meio de uma nova era de ouro dos jogos de mesa, com títulos criativo, dinâmicos, inteligentes, direcionados para os mais variados perfis. Muitos capazes de entreter crianças e adultos ao mesmo tempo.

Abaixo vão algumas sugestões.

Para se divertir com as crianças:

Flap-Flap (Devir, 2016)

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 Foto: Estadão

A criatividade aqui começa já na distribuição das peças. Em vez de os jogadores receberem cartas e haver um tabuleiro em comum, cada jogador recebe um tabuleiro enquanto as cartas servem para todos. Elas trazem figuras de borboletas coloridas que estão escondidas nos tabuleiros individuais. Estes são dobráveis, e é preciso encontrar mais rápido do que os outros a configuração que mostra exatamente a borboleta da carta. Quem conseguir mais cartas, ganha. Como as partidas são curtas e muito disputadas, fica sempre a sensação de "vamos tentar de novo", o que estende a vida útil do jogo.

Para grupos grandes:

Captain Sonar (Conclave, 2018)

 Foto: Estadão

Esqueça a longa e por vezes tediosa batalha naval. Nesse jogo dois de times de quatro pessoas se enfrentam no comando de submarinos tentando localizar e destruir o outro. Enquanto o capitão dá as direções, sua tripulação controla os sistemas de ataque e defesa, ao mesmo tempo em que um espião ouve a conversa do time adversário para localizá-lo no mapa. O jogo não é disputado em turnos, mas em tempo real, dando a verdadeira sensação de uma perseguição.

Para grupo gigantes:

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Robô ricochete (Devir, 1999)

 Foto: Estadão

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Em parte jogo, em parte desafio, não existe limite para o número de pessoas que podem disputar cada partida. Em um tabuleiro quatro ou cinco robôs são distribuídos em posições aleatórias. Sorteia-se então um ponto para o qual determinado robô deve ser transportado. Eles só andam em linha reta, contudo, e quando começam a andar não param até bater numa parede ou em outro robô. Cada jogador tem que descobrir o caminho mais curto entre o ponto em que o robô está e o que ele deve chegar seguindo essas regras. Quem encontra uma solução deve anunciar em quantos movimentos consegue cumprir o objetivo. A partir daí vira-se uma ampulheta e todos têm a chance de tentar um caminho mais curto. Quem conseguir marca o ponto.

Para dois jogadores:

Patchwork  (Ludofy, 2014)

 Foto: Estadão

Um dos meus preferidos, esse é um daqueles jogos em que o tema - costurar uma colcha de retalhos - é só uma desculpa para construir um sofisticado puzzle. Não existe ordem determinada para jogar, a vez é sempre de quem estiver atrás na linha do tempo. Conforme se avança no tabuleiro os jogadores têm a possibilidade de comprar retalhos para suas colchas - gastando diferentes quantidades de botões para isso - e são recompensados de tempos em tempos com a chance de repor seus estoques de botões. Quanto melhor for o encaixe dos seus retalhos, menos buracos a colcha terá, o que faz toda diferença na pontuação final.

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Para se divertir mais que as crianças:

Pequeno Príncipe : Faça um planeta (Meeple BR, 2013)

 Foto: Estadão

Esse é um dos mais bonitos dessa lista. Cada jogador tem que construir um planeta composto por 16 peças que, que assim como no livro, contará com vulcões, rosas, lamparinas, baobás. Também não há ordem pré-determinada, um jogador escolhe uma peça e diz quem será o próximo. Esse faz da mesma maneira até chegar ao último, que será o primeiro na rodada seguinte. Cada planeta tem sempre quatro personagens, que dão pontos por diferentes critérios - quem tem o rei faz mais pontos se tiver menos rosas; o Pequeno Príncipe pontua por carneirinhos etc. A estratégia então é tentar juntar peças de acordo com seus personagens, mas várias viradas ocorrem até o fim da partida.

 

Esses são só alguns das centenas de títulos inovadores que elevam o nível de qualidade e diversão dos jogos de tabuleiro. O universo dos jogos modernos está cada vez mais aquecido no mundo todo, e o Brasil entrou na onda - o recente evento Diversão Offline reuniu mais de cinco mil participantes em um só final de semana em São Paulo. Ninguém precisa jogar fora seu antigo War ou Detetive. Mas para competir com o moderno mundo virtual de hoje em dia não é má ideia que os jogos reais sejam também modernos.

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Leitura mental

 Foto: Estadão

Se nenhum desses jogos interessou ao leitor há ainda a chance de tentar fazer seu próprio título. O livro Como Fazer Jogos de Tabuleiro: Manual Prático (Appris, 2018), do designer Marcelo La Carretta, é literalmente um livro de receitas. Nele Carreta apresenta ao leitor o processo de desenvolvimento de jogos, introduzindo conceitos como temática, mecânica de jogos, cenário etc. Ao final ele inclui moldes de tabuleiros básicos para o leitor que quiser arriscar seus primeiros passos no desenvolvimento de títulos.

Opinião por Daniel Martins de Barros

Professor colaborador do Dep. de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. Autor do livro 'Rir é Preciso'

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