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Psiquiatria e sociedade

Opinião|Adoção por gays - opiniões versus fatos

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Atualização:

[tweetmeme] É certo os gays poderem adotar filhos? Ah, as polêmicas. Polêmicas só podem resistir num território de opiniões. Quando em vez de opiniões tratamos com conhecimento, a chance para discussões estéreis fica reduzida. Afinal, o conhecimento é um tipo de opinião, mas uma opinião verdadeira e justificada, já ensinava Aristóteles ao discorrer sobre o tema.

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Então, se vamos falar de adoção por casais gays, que tal irmos aos fatos? Qualquer um pode ser contrário ou favorável, mas quando começam a falar que crescer com duas figuras do mesmo sexo é prejudicial, na minha cabeça acende uma luz amarela: prejudicial como? Quem disse? Quais as evidências? Intuitivamente pode-se imaginar que cause alguma confusão nas crianças ter dois pais ou duas mães, mas alguém já testou essa hipótese?

Já.

Cito dois artigos importantes sobre o tema.

O primeiro data de mais de trinta anos atrás (I). Em 1978 Richard Green, um psiquiatra e advogado americano, especializado em sexologia, estudou trinta e sete crianças criadas por mulheres homossexuais ou transsexuais. Os filhos tinham em média 9 anos (de 3 até 20) e conviviam com as mães em média há 5 anos (indo de 1 até 16). Green relata que das trinta e sete, trinta e seis tinha desejos, jogos, brincadeiras e vestimentas idênticos aos esperados para sua a idade e gênero.

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Ok, essas crianças eram criadas por um homossexual, não por casais, pode-se objetar.

Pensando nisso, a psicóloga britânica Fiona Tasker, outra estudiosa do tema, fez uma revisão sistemática da literatura sobre a criação por homossexuais, tanto sozinhos como em casais (II). Os dados encontrados mostram que as crianças criadas nesses lares têm o mesmo desenvolvimento psicossocial que as outras crianças, vivenciando experiências familiares semelhantes. Se elas têm algo de diferente é a exposição precoce à existência de outras realidades familiares e a questões como diversidade sexual, tolerância e homofobia. Nada disso provou ter impacto negativo em seu desenvolvimento.

Isso significa que é certo casais gays poderem adotar? Nem sim, nem não. Definir se é certo ou errado vai além disso, envolvendo valores da sociedade, legislação federal etc. O que os estudos mostram, contudo, é que aqueles que quiserem se manifestar contra esse direito, que o façam invocando seus próprios interesses, sem brandir, hipocritamente, os efeitos deletérios sobre as crianças. Esses, os fatos até aqui mostram que são mera opinião infundada.

Opinião por Daniel Martins de Barros

Professor colaborador do Dep. de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. Autor do livro 'Rir é Preciso'

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